Motos Clássicas 70
Passo-a-Passo

HONDA CBX 1050
1979

por: Ricardo Goldszmidt

Atualizado em 11/07/2005

Todos sabem que sou um apaixonado por esse modelo desde o seu lançamento, e de novo terei o prazer de mostrar mais uma restauração.

Será interessante acompanhar como podemos evoluir nas restaurações, seja com o auxílio de outros profissionais mais capacitados ou usando novas técnicas nunca antes utilizadas.
Desde a CBX que restaurei mostrada nesta mesma sessão (Outubro
de 2003) até agora, muita coisa mudou na maneira de restaurar estas motos, aproveito a partir de agora para compartilhar com vocês estas novas técnicas.

Vamos falar um pouco sobre a moto:

Pelas fotos poderão ver que a moto estava bastante honesta, nada de muito importante estava faltando e pelas fotos se observava que muitos dos parafusos vitais ainda eram os originais de fábrica - um claro sinal que a moto não passou pelas mãos de muitos "fuçânicos".

Ela funcionava relativamente bem, alguns barulhos indesejáveis no motor mas completamente imaculada na parte ciclística.

Hora de desmontar tudo e separar por grupos - Zinco, cromo, jato de areia, pintura a pó, pintura a pistola, peças que necessitam reparos, peças que irão para o lixo - toda a parte mecânica foi separada e submetida a medições pra determinar se ainda eram utilizáveis ou não - de acordo com o manual de serviço da moto.

Na desmontagem da moto deu pra perceber que as peças estavam em excelente estado, e que a moto nunca foi submetida a excessivos maus-tratos.
Algumas
gambiarras e adaptações inúteis (como uma bomba elétrica de combustível) estavam presentes e foram direto pro lixo.
Peças adaptadas de outras motos
(como o freio dianteiro) também se despediram ...

O motor estava absolutamente imundo por dentro, revelando que os antigos donos não eram muito propensos a trocas de óleo regulares (o grande segredo pra que estes motores durem bastante).

Os carburadores estavam funcionando não sei como, tal era a sujeira presente neles.

Hora de mexer no chicote .... um monte de emendas, alguns fios torrados, conectores de outras motos, nada que algumas horas, algumas soldas e alguns metros de fita isolante não resolvam...

Desmontagem da bomba de óleo - esta peça passa meio que despercebida pela grande maioria dos restauradores com os quais converso - no máximo eles verificam se está travada ou não, quando a desmontagem e medição é virtualmente a única garantia de que o motor não sofrerá por falta de pressão de óleo mais tarde. Se as folgas são maiores do que determina o manual, melhor jogar fora e procurar outra ... a desta moto está perfeita...

O kit foi pra pintura (Júlio da Factor Design), não sem antes passar pelo jato de areia pra arrancar toda a massa plástica e as tintas velhas que insistem em não sair tão fácil.
A cor escolhida pelo atual dono foi preta, e
na minha opinião é a cor mais bonita para esta moto.

O painel foi desmontado para limpeza dos relógios e restauração das letras dos mostradores plásticos.

As bengalas foram alinhadas e ficaram com menos de 2 centésimos de empeno (virtualmente nada).
Ambas estão com o cromo em perfeito estado - os
retentores foram trocados pelos originais Honda.

O virabrequim foi medido e todos os colos estavam absolutamente em ordem e dentro da medida standard.
Foram retiradas as esferas que selam as passagens
de óleo para limpeza.

Aqui vale uma observação - quase todos acham que basta passar um arame nos colos de mancal para que o virabrequim fique limpo.
É um
terrível engano, a sujeira se deposita nas passagens dos colos de mancal para os colos de biela, e quando retiramos as esferas e passamos uma escova de aço é impressionante a quantidade de sujeira que aparece.

Aos que não acreditam nisso (como eu mesmo não acreditava no passado) recomendo fazer uma vez - depois que virem o tanto de sujeira que sai mudarão de opinião (como eu mudei...)

Hora de pintar o motor...
Ele foi imerso por inteiro num decapante que
arrancou toda a tinta velha - antes eu arrancava a tinta na base do pintoff e pincel, demorava uns 2 dias e fazia uma sujeira danada - , depois foi cuidadosamente lixado, empapelado e pintado.
Uma camada de verniz foi
acrescentada no final.
Aproveitei também pra pintar as outras peças que são
da mesma cor do motor.

Depois que voltaram do jato de areia, as rodas foram empapeladas e os frisos reservados com fita crepe (imaginem o trabalho!) e os discos de freio idem.

As peças de alumínio foram polidas e escovadas, depois receberam uma camada de verniz para proteção.
Aproveitei pra fazer o mesmo em outras peças de meu
estoque, por isso aparecem algumas peças a mais do que deveriam.
Ficaram
idênticas às originais, o mais comum é vermos as peças de alumínio polidas como se fossem cromadas, eu também fazia assim no passado, mas agora mudei de opinião.

Montei as carcaças do motor, coloquei os parafusos e dei o aperto correto com o torquímetro - tudo isso sem colocar o virabrequim e com o intuito de realizar medições de cada colo de mancal com súbito.

Desta maneira é possível ter 100% de certeza quanto às medidas de cada colo.
A marcação que
vem estampada no bloco depois de mais de 20 anos e sabem-se lá quantas montagens e desmontagens não representa mais a verdade do motor.

Antes eu simplesmente me baseava nas indicações de fábrica, mas agora sou mais prudente e prefiro realizar a medição em todos os colos.

As bielas também foram montadas fora do virabrequim e medidas com súbito, 4 estavam de acordo e 2 foram descartadas, usarei outras 2 do meu estoque.

Hora de começar a montar a moto.
O quadro voltou da pintura a pó - antes eu
pintava com pistola - esta pintura é muito mais resistente que qualquer pintura aplicada com pistola, e a camada de tinta é absolutamente homogênea em qualquer ponto do quadro, algo impossível de ser feito com pistola.

Todas as peças metálicas, independente de seu tamanho, também foram pintadas a pó.

Novos rolamentos na caixa de direção, instalação do chicote, punhos, e todo o resto da parte elétrica.

Hora de fechar o motor...
Com muita calma pra não deixar nada pra trás.

Ainda estou aguardando os cilindros e o cabeçote (ambos foram encaminhados para medição e revisão), então por enquanto só fechei a parte de baixo...

Todos os retentores foram trocados, bem como os O'rings.

Com as medidas do virabrequim, bielas e colos de mancal determinei (com ajuda do manual) quais seriam as bronzinas necessárias, só pra ter certeza usei plastigage pra conferir as medidas e todos os colos ficaram com aprox. 4 centésimos de folga (a fábrica determina de 2 a 8 centésimos de folga)

Por enquanto é isso, mandarei mais atualizações posteriormente...


10/05/05:


11/07/05:

O cabeçote voltou da revisão e troca de retentores e foi pintado.
Os instrumentos do painel também receberam tinta.

O cilindro voltou da retífica ( foram trocadas as camisas por outras feitas sob encomenda ), foi pintado e colocado no motor, que recebeu novos anéis.

Os pistões foram medidos e encontram-se dentro das medidas especificadas no manual de serviço.

Hora de colocar o cabeçote e ajustar as correntes de comando nos comandos.

Aqui vale um comentário - mais da metade das CBX que mexi até hoje estavam com os comandos montados fora de posição, e com esta não foi diferente ( O comando de exaustão estava montado 1 dente fora de posição ). É incrível a falta de preparo de certos mecânicos ...

Se você que está olhando esta matéria, tem uma CBX e acha que a mesma não está andando o que deve, peça pra seu mecânico de confiança conferir ( e te mostrar ) se os comandos estão na posição correta.

Hora de colocar o motor na moto, na verdade é colocar a moto no motor. É mais fácil posicionar a moto em cima do motor do que ficar tentando colocar o motor no lugar certo.

Hora de montar também todos os periféricos ... a moto começa a tomar forma...

Com a moto montada começa uma série de regulagens e acertos necessários, afinal de contas esta moto foi inteiramente desmontada e todos os sistemas da moto precisam ser testados.

A moto finalmente pronta depois de uma longa e completa restauração. Devo admitir que nem eu mesmo esperava que a moto ficasse tão bonita e tão gostosa de andar.