A culpa é da bicicleta 2
A Avenida São Carlos estava bem calma naquela sexta-feira de manhã de 1979.
As férias escolares deixavam a rapaziada livre, os pais nem tanto.
Havia poucos semáforos.
Estávamos descendo a avenida, sentido 15 de Novembro / Mercadão, Ronaldo no comando da RS 125 do seu pai, ano 1977, lindinha, torcendo para não cruzar com nenhuma viatura da PM, pois ele não tinha carta.
Eu, com 14 anos...
Tinha que se descer a avenida com cuidado, pois na passagem pela rua 13 de Maio, o desnível é grave e forma quase que um trampolim dependendo da velocidade que se vem.
Já tínhamos passados por ali algumas vezes, mas estavámos experimentando o quanto a motinha andava.
No maior pau, confiando que tudo daria certo e os motoristas não cometeriam erros, atingimos os 100 km/h e pau na máquina.
Cruzamos a 13 de Maio, e a moto deu um salto com as duas rodas fora do chão.
Resolvemos fazer de novo.
Estávamos novamente em frente a Catedral, chegando na 13, dois carros subindo, nós num pau lascado, ninguém à nossa frente, até que um senhor num Fusca verde escuro entra com tudo na avenida, sem respeitar o pare.
A pancada foi forte, bem no meio da roda do "besouro", a moto ficou e nós rolamos ribanceira abaixo. A camiseta ficou VAZADA, o shorts então, em frangalhos, braço quebrado, os dois pés em estados lastimáveis, todo ralado pois o Kichute não deu conta.
O estado do Ronaldo era ainda pior, e ele ainda tinha que esperar o pai vir atender a "ocorrência".
Fui mancando e chorando pra casa.
Naquele estado, parar no açougue do meu pai no Mercado Municipal, não seria um boa idéia.
Seria bronca na certa, isso sim.
Demorei até para chegar em casa, fui para o chuveiro, toda a ralação ardia até embaixo d'água, e tirar a roupa (o que restou dela), foi uma dureza.
Ir para o hospital então, foi doído.
Fiquei em casa sem poder nem ver o Ronaldo que morava a poucos quarteirões dali.
Para minha mãe, que chegou em casa à tarde e me viu naquele estado, já com o braço engessado, foi a desculpa de sempre: caí da bicicleta, "mó" tombo.
Ela ficou mais desconfiada que gato na beira do rio, pois a magrela não aparentava estar muito pior do que o de sempre.
Falei que caí ao fazer a curva, a bike ficou eu fui.
Depois, na segunda-feira, sem camiseta pois as costas ainda ardiam até, fui até a casa do Ronaldo, o pai dele não parava de dar bronca, o garoto com o braço inteiro engessado, a perna direita quebrada, tínhamos estragado um pouco os capacetes dos pais dele.
Minha Monark 10 levou novamente a culpa no maior silêncio.
A pobre da RS foi novamente para a oficina, pois o garfo entrou embaixo do motor, arrebentou quase tudo.
Aí fiquei sabendo que o motorista se desculpou, pagou o conserto da RS.
Foi um alívio.
Hoje a avenida São Carlos, naquele trecho, é mão única, só sobe, o que acabou com a rampa.
Obrigado minha querida Monark 10, você salvou minha pele (teóricamente) outra vez.
Tabajara Aparecido Jorge
tabajaraaparecidojorge@hotmail.com
São Carlos - SP