A minha CB 125 K5, a "CBzinha"

 

Primeiramente eu tenho que confessar que gosto de coisas antigas, principalmente carros e motos antigas, da década de 70, década em que nasci. Geralmente gostamos mais da época em que passamos da infância para a adolescência, no meu caso, anos 80, mas os anos 80 me parecem sem graça, parece uma época em que as coisas estavam ficando modernas, os 70 foram os últimos anos antigos, em se tratando de veículos de duas e quatro rodas.

Já tenho um veículo antigo, um Fuscão 72 "O Tremendão", além de uma CB 500 moderna, dessas comuns, 1998. Trabalho em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, cidade pequena, trânsito bagunçado, é comum cidadãos morarem a 5 quadras do trabalho e irem de carro. Sou um defensor das motocicletas como meio de transporte racional, e estava procurando uma alternativa ao uso do Fuscão no dia a dia, moto, é claro.

Pesquisei CGs, MLs, até Turunas, porque aqui em Campo Largo, ainda existem essas boas motos bem conservadas, de uma época que as motos eram meio de transporte acessível às camadas mais humildes da população (hoje nem isso), uma época que não existiam ainda motoboys (nada contra os motoboys, apenas é que suas motos sofrem as conseqüências do uso exaustivo, hoje você não acha uma CG semi nova bem conservada e original). Mas, as motos a venda sempre estavam detonadas, e quem tem uma em bom estado, não vende. Conheci uma pessoa que tem uma ML 85 com aprox. 30.000 km, isto é, razoavelmente bem rodada, não é uma moto de garagem, mas está absolutamente perfeita, dá gosto de ver uma moto assim. Mas ele não vende!

Nessa peregrinação atrás de uma moto barata e bem conservada, comecei a procurar não só em lojas e classificados, mas também nas oficinas. E numa oficina é que eu conheci a CBzinha. Estava parada num canto, empoeirada, como é comum nesses casos, com o farol solto em sua base e apontando para o chão, como que chateada e cabisbaixa por estar ali abandonada. Chamou-me a atenção os dois cilindros, a partida elétrica, denunciada pelo motor de arranque bem a frente do bloco. Perguntei ao dono da oficina sobre a moto: é uma CB 125 1974, parada ali no cantinho a quase 4 meses, com apenas 19.965 km rodados e aparentemente originais. Tinha entrado na oficina para consertar o pedal de partida (sua mola estava quebrada), além de regular os carburadores. Perguntei sobre o dono, sobre uma eventual venda, e sabe o que tive como resposta? "Eu perdi o telefone dele e ele sumiu, não apareceu mais". Achei estranho mas não desconfiei de nada. Depois é que eu fui saber: o dono da oficina avisou o dono da moto sobre meu interesse, e ele quis combinar alguma comissão sobre a venda. Acharia justo alguma comissão desde que o dono da oficina realmente ajudasse a vender a moto, e não falar mal dela, como: "Ah, essa moto é um pepino, só estraga" ou "Prá quê que você quer essa tranqueira??" No mínimo uma incoerência! Fica aqui o alerta a quem procura uma moto antiga para comprar: fujam desse atravessadores, sempre que possível falem com o dono diretamente, paguem comissão apenas se estiver previamente acertado entre as partes.

Vejam só o que é cidade pequena: comentando o fato com outro mecânico, ele contou a seguinte história...

"Ah, essa moto era minha e eu vendi a uns dois anos para o Marcelo, conheço bem ele, te dou o telefone. Ele tratava essa moto a pão-de-ló, guardava ela dentro de casa!"

"Mas porque ela está lá na oficina do Márcio?" perguntei.

"É porque nasceu o filho dele e ele não tinha lugar onde guardar a moto, ela ficava no quarto do futuro filho (!!). Depois quebrou a mola do pedal de partida, ninguém dava jeito naquela coisa, daí ficou encostada lá no Márcio..."

Depois apurei a parte verdadeira (a moto ser guardada dentro da casa do Marcelo) e a parte falsa (a moto sempre foi do Marcelo...porque essa sucessão de mentiras, eu não sei).

Falando com o dono, muito simpático, agendei uma visita à oficina do Márcio, para conversar pessoalmente e até dar uma voltinha. A cara do Márcio quando chegamos lá.... "Perdi a comissão!" deve ter pensado....

Mas vamos ao que interessa: será que vai funcionar? Bateria descarregada, mas o pedal está lá, consertado e funcionando. Apenas dois "kicks" de leve e o motorzinho despertou! Fiquei atento a fumaça nos escapes, mas, fora umas baforadas iniciais, tudo normal. Esperei esquentar, vi o vazamento de gasolina pelo respiro das bóias dos carburadores (é só regular, falou o Márcio), engatei a primeira e saí....

Em outras histórias dos amigos publicadas aqui na seção, li e senti a emoção descrita por eles ao dar a primeira volta na primeira moto, ou então, na moto que sempre sonhou ter. Eu nunca sonhei ter uma CB 125 K5, sequer conhecia o modelo, mas a emoção que senti ao dar algumas voltinhas nas quadras ao redor da oficina será lembrada até eu enjoar de moto (o que certamente nunca irá acontecer). Senti o motor subindo de giros rápido (primeira e segunda marchas são bem curtas), o ronco entusiasmante (depois eu vi os buracos nos escapes), senti a frente afundar, tal o poder do grande tambor nas frenagens (é a suspensão dianteira que está meio arriada, mole).... as marchas passando com suavidade (é o cabo da embreagem quase se rompendo)...

Vocês entenderam??? Essa moto não passa de uma pequena tranqueira, mas nosso subconsciente trata de fazer com que enxergamos as coisas por uma outra ótica, a ótica dos apaixonados por máquinas de duas rodas, máquinas antigas a quem devemos uma reverência e um respeito destinados apenas aos grandes amores da nossa vida. (que nossas esposas e namoradas não nos ouçam!)

Retornando do passeio, chegou a hora da conversa: vende ou não vende, compra ou não compra, valores. Pensei: "se esse cara vier com história de que tem valor sentimental, que é uma raridade, relíquia, esse papo furado todo, eu pulo fora...." Mas fiquei muito feliz quando chegamos a um valor razoável, quase todo ele destinado a quitar os impostos atrasados desde 1990. Praticamente não sobrou nada para o Marcelo. Percebi depois que não era um caso de não dar valor ao que tinha em mãos, mas sim de oferecer a moto por um valor justo a alguém com melhores condições de usá-la e mantê-la.

Falei que ia pensar, e pesquisar também, e assim o MC70 foi muito útil em me ajudar a decidir sobre a aquisição desta máquina. Agradeço a vocês pela ajuda e devo também um agradecimento especial ao Kleber Klein, do Rio de Janeiro, que foi e está sendo de uma solicitude e gentileza extremas, realmente não sei outra forma de agradecer ao amigo senão tornando pública a minha satisfação em manter contato com pessoa tão sábia e experiente nesse assunto.

Depois da burocracia de praxe, levei ela para a garagem do meu trabalho e perguntei: e agora!!??

Esse "agora" é o que eu estou fazendo e mostrando no site da CB 125 K5, a CBzinha.  

( www.cb125k5.hpg.com.br )

Comprei a moto, tomei gosto pela coisa, já gostava de antigüidades, é verdade, mas faltava aquele impulso, aquela emoção que senti quando andei com ela e que me fez ter saudade de uma época que eu não vivi propriamente, mas acompanhei e acompanho seus ecos através dessa tecnologia maravilhosa chamada Internet, que permite escrever essas besteiras e entrar em contato com outros loucos como eu que tem motos antigas e que gastam dias e semanas e meses restaurando e recuperando e passeando e que..........

Obrigado pela paciência, obrigado por prestar esse serviço de apoio e incentivo aos colecionadores, amantes e entusiastas do motociclismo clássico. Desejo muito sucesso a vocês e tomara que esse site se torne referência nacional em motos clássicas dos anos 70 (eu até acho que o MC70 já é uma referência na língua portuguesa).

Forte abraço a todos.

Gustavo Pamplona