A "patrulha"

 

Esse "caso" eu jamais esqueci e resolvi contá-lo, pois hoje eu acredito que isso, se repetido, com tantas câmeras de vigilância no país, iria resultar em uma grande confusão, podendo ser transformado em caso policial...

Em 1976, eu comecei a namorar uma garota, pela qual não perdi o amor até hoje, embora dela eu não tenha mais notícias...

Ela hoje é uma senhora que mora no interior de São Paulo e, talvez, não recorde mais esse episódio...

Eu já a mencionei em uma história anterior, ao falar de uma certa Yamaha RX (A coisinha).

Nessa época, as turmas de adolescentes e pós-adolescentes disputavam entre si quem cometeria as maiores ousadias, o que se tornava, após "lendas urbanas" para o relato de bravatas...

Os amigos mais "mansos" eram alvos frequentes de chacotas e até mesmo as garotas tinham "algo a relatar"...

Essa garota é filha de russos, de uma família meio "complicada", que desejavam um "bom casamento" para as filhas e detestavam o visual "jeans camiseta e jaqueta" da molecada...

Ela "cometeu" a besteira de namorar comigo (embora, no começo, a coisa toda se assemelhasse a um noivado, pois tive que pedir consentimento aos pais e começaram a fazer planos - os pais dela - para um futuro casamento).

Eu tinha 23 anos e ela 14 para 15, embora ela aparentasse mais idade.

Garota CDF, cursando o 2º ano do 2º Grau, praticando Yoga, tocando piano clássico...

Antes de namorar comigo, a garotada do Parque Continental dizia que ela era "sem gosto e sem sal", o que na verdade não passava de miopia coletiva (...), pois ela foi uma das pessoas mais interessantes que eu conheci...

Eu estava "enfiado" no jornalismo, há alguns anos e trabalhava na "famigerada" CGJ, mis conhecido como o jornalismo da Globo, chefiado pelo saudoso Paulo Mário Mansur, na Praça Mal. Deodoro...

Eu estava no Depto de Pesquisa, chefiado pela ora falecida Gisela Svetlana Ortriwano...

Eu já estava de "saco cheio" das "políticas" da matriz carioca, que reconhecia somente os cariocas e resolvi "fazer cursinho pré-vestibular" no Objetivo, na Av. Paulista, para Arquitetura...

A mãe da garota, que era o "general" da KGB em casa (e tentava ser também na rua) adorava ver meus esboços ou rascunhos de desenhos, acreditando que eu seria um bom partido, sem ao menos ter conhecido a minha família ainda...

Bom, para não me alongar muito, eu percebi que o país iria enfrentar uma crise econômica mais adiante (graças ao raciocínio jornalístico, embora a gente não pudesse transmitir isso ao país, graças à censura dos militares) e uma crise na construção civil...

O resultado é que eu mudei o foco para o Direito, pois essa é uma área que ainda apresenta chances de sobrevivência em meio a crises...

Mudei o discurso e mudou a "recepção" na casa da garota...

Resultado: encontros às escondidas e em casa de amigos, por vezes...

A melhor amiga dela, a Regina, tem um irmão, Osmar César que era "meio paradinho" para os padrões dos meus amigos "arruaceiros".

O pai dele, porém, resolveu dar-lhe um presente cobiçado por muitos à época, em razão da maioridade relativa do filho (18 anos): uma Honda CB 125 "made in Japan" zero!

Era quase um "Vital e sua moto" nascendo aí...

Em uma tarde gostosa e ensolarada de sábado, ela estava na casa da Regina e, como eu não aparecia e não ligava para a casa da amiga, a "desesperada" resolveu "intimar" o Osmar César, mais conhecido por César, pedindo para ele me procurar nas redondezas, mas levando-a na garupa...

Rodaram o Parque Continental "em patrulha", não encontrando alguém que houvesse me visto naquela tarde.

Mais tarde, à noitinha, eu conheci os detalhes da "patrulha".

Segundo os relatos, ela já estava desistindo quando lembrou que uma minhas "prainhas" era uma lanchonete no piso térreo do Shopping Continental...

Resultado: "toca pra lá" !

O César, entretanto, tinha ciúmes da sua moto e, por isso, deve ter receado estacionar a moto, deixando-a sozinha, pois os "arruaceiros" locais poderiam esvaziar os pneus da mesma ou arrancar o cabo de vela, coisa corriqueira naquela época...

A idéia alternativa, o "plano B", foi aprovado em unanimidade e eles resolveram fazer algo muito temrário nos dias de hoje, embora, à época, isso também fosse altamente perigoso...

Eles resolveram adentrar o Shopping com a moto, "em patrulha"...

O César engatou a segunda e foi entrando no Shopping lotado, com ela na garupa, desviando das pessoas, em segunda marcha, enquanto a segurança, atônita, não sabia o que fazer, tendo atravessado todo o piso térreo, de um lado a outro, enquanto os seguranças e bombeiros do local corriam atrás, tentando, em vão, alcançá-los...

Durante um bom tempo, César evitou passar em frente ao Shopping, mesmo porque, como o capacete não era obrigatório, todos haviam visto seu rosto...

Entretanto, eu acredito que ninguém reparou nela, pois a garota morava a alguns metros do local, em uma rua em frente...

Quando eu a encontrei, horas após, vendo a sua excitação, eu pensei: eu estou com a mulher ideal ao meu lado...


José Wellington Porto
wellporto@yahoo.com.br

Osasco - SP