A Turma de Santo André

 

       Nasci em Santo André e por lá vivi até meus onze anos de idade, quando minha família mudou-se para São Pedro, em 1.975. Falando de motos, lembro-me de algumas anteriores ao período de nossas clássicas, como exemplo: uma Indian usada por um encanador do bairro e algumas Lambrettas comuns naquela época.

       Apesar da mudança, mantive ainda contato com a cidade, pois meus primos ainda moravam por lá, alguns deles até hoje. Um deles em especial acabou me colocando em contato com o mundo das motos de então. Seu nome é Ferdinando Trivellato, na época, um mecânico de mão cheia, que além de mexer nas motos por prazer, ainda ganhava uns trocados da molecada que tinha no porão da casa de sua família, que ficava na rua Japão, próximo à praça Chile no Parque das Nações, um ponto de encontro de apaixonados por motos.

       A brincadeira começou com uma Mobylete comprada por meu tio. Lembro-me bem daquele ciclomotor azul claro, com alguns acessórios da época (guidon “morceguinho” e banco rabeta), muito bonitinha, quase igual ao modelo de origem francês. Entre suas façanhas, está um kart montado por ele e um amigo de nome Alberto (único do qual me lembro o nome, mas não o sobrenome, falecido precocemente naquela época em um acidente com uma camionete), usando um motor de Lambretta e um chassi tubular feito com os restos de uma velha Jawa. Aos que se lembram, na época, a revista Duas Rodas publicou coincidentemente uma reportagem de um kart parecido. O deles era mais bonito, com um chassi em forma de triangulo, ao contrário do “caixote” publicado.

       Lembro-me de algumas das motos que por lá passavam e que hoje fazem parte das clássicas aqui contempladas: Honda CB 125 (S e K), as “Setentinhas”, uma CB 360 estilo “Café Racer”, entre outras. Como já disse, não me lembro do nome de seus proprietários, caso algum deles leia este texto, poderá complementar com relatos da época.

       Fazia parte dessa turma um outro primo, Marco Trivellato, que também por conhecer outros motociclistas, acabava indicando Ferdinando para a manutenção das motos. Não preciso nem dizer que a farra maior nisso tudo era o fato de a maior parte dessa molecada ser menor de idade , imagine só o que rolava...

        Lembro-me de uma ocasião em que fomos visitar um deles e emprestamos uma Harley 125 para dar uma volta. Imagine a cena, dois moleques, sem capacete, voando pela Avenida Perimetral ! Para piorar, lembro-me de um cara que me provocou com uma CG e eu não resisti, saí esticando as marchas avenida afora, mesmo sem entender muito bem as folgas características daquele câmbio e arriscando com a falta de freios comum as 125 da época, algum juízo?

        Aconteceram também nessa época às primeiras idas a rua General Osório em São Paulo, a conhecida “Boca”. Teimávamos em querer fazer duas Leonettes funcionarem, uma de duas marchas e uma de três.

         Outro lugar interessante ficava lá pelos altos da rua Oratório, uma oficina de motos que funcionava em um velho salão, em que trabalhava um senhor já de idade, cuidando de motos antigas para aquela época, as clássicas de então. Era um lugar bem bagunçado, com um mecânico que parecia um cientista maluco a trabalhar em meio a verdadeiros “resíduos de guerra”. Interessante era a maneira como ele acertava o ponto dos motores: com uma mão ele segurava o cabo de vela, com a outra girava o volante do magneto, o choque da centelha dava a posição certa. Não é a toa que o cara tinha os cabelos sempre para cima!

       Assim, essas são algumas recordações ligadas a minha cidade natal e ao mundo do motociclismo. Aos primos e amigos de Santo André, um grande abraço!

 
da esquerda para a direita, meus primos: Marco Trivellato, Ferdinando Trivellato e meu irmão Mário Trivellato, ao centro a poderosa Leonette três marchas

            Carlos Trivellato