Dois anos atrás, um empresário paulista encontrou num museu particular no interior do Rio uma motocicleta que, para os pilotos dos anos 60 e 70, era um verdadeiro fetiche das pistas: uma Yamaha TZ350 com quadro holandês de competição Nico Baker. Desconfiou que poderia ter sido o modelo que Adú Celso trouxera ao Brasil três décadas antes para competições no país. Depois de muito negociar, acabou comprando a moto, dando em troca uma bicicleta antiga italiana, uma outra moto clássica, uma Yamaha RD350, e mais uma quantia em dinheiro.

"Quando eu tinha 12, 13 anos, era louco por corridas de motos e as velocidades que as TZ atingiam em Interlagos, até 270 km/h, me fascinavam", diz o empresário, que prefere se manter no anonimato. "Sempre fui um admirador do Adú, porque ele era um cara diferente, só corria vestido de preto e com a Cruz de Lorena pintada no capacete. Era uma figura quase mística."

A moto estava pendurada num "galpão de sucatas", lembra seu novo proprietário. Antes de fechar o negócio, ele encontrou Adú em Santos, mostrou fotos, e comprovou que era mesmo a motocicleta que o piloto havia importado nos anos 70. "Ele me recebeu superbem, me abriu seu arquivo, mostrou reportagens e fotos. Ele tinha uma pasta para cada corrida que disputou lá fora. Então comecei a restaurar, ir atrás de peças. Tive de viajar duas vezes para a Inglaterra para comprar algumas partes que estavam faltando. A TZ350 tem seguidores na Europa, é uma moto clássica que tem muito carisma."

Depois de montada, faltava escolher a pintura. "Escolhi junto com o Adú, e refiz exatamente como ela era, com as cores e os adesivos de patrocinadores da época. Quando fui participar de uma prova de motos clássicas de corrida com ela no ano passado, em Spa, as pessoas reconheciam e diziam: 'Adú Celso, Adú Celso!'. Ele era muito conhecido lá e muito popular, também. Andei três dias com ela na Bélgica sem problema nenhum."

Quando viu sua moto pronta, conta o empresário, Adú sentou-se nela e ficou "alguns minutos olhando para o espaço". "Não sei o que se passou pela cabeça dele, mas o Adú era um cara muito ativo, bem de vida, e não me passou a impressão de ser alguém amargurado como muitos pilotos, ou excessivamente ligado ao passado. Ele autografou o tanque e ligou a moto três vezes na rua. 'Viu, ainda sei fazer isso', me disse."


Adú Celso numa das sua últimas fotos, sobre a TZ 350 1976 restaurada
2004

Fonte: site www.grandepremio.com.br