AUGUSTO BRETTONI

O "MARATONISTA"

 

Corredor versátil, capaz de passar de uma ligeiríssima 50  a uma potente 1000 cc, Augusto Brettoni apareceu no cenário da motovelocidade em 1967 e 1968.

Especialista em corridas de longa duração (daí seu apelido de "maratonista"), foi o grande nome da Laverda nas competições.

Com a "Casa di Breganze", teve as maiores satisfações de sua carreira !


A paixão pelas corridas na família Brettoni sempre esteve presente.

Os irmãos Ugo e Aristide Brettoni, nos anos 30, tinham uma oficina de preparação de motocicletas em Barberino Val d´Elsa, localidade situada a poucos quilometros de Firenze.

Logo após a guerra, o filho de Ugo, Augusto, estudava ainda no primário, mas no tempo livre, frequentava a oficina, porque "quando crescer quero que a moto e a mecânica sejam a minha vida" dizia o garoto !

Na oficina se falava muito sobre corridas, pilotos e sobre suas motos e histórias, que fascinavam o jovem Augusto.

A sua primeira moto foi uma Motom 48, e logo substituída por uma Benelli.

Moto que foi, obviamente, preparada pela oficina, e que Augusto usava para vencer os amigos nos rachas de rua !

Porém, não muito satisfeito com a Benelli, Augusto compra uma Parilla 300 Veltro e logo depois, em 1960 troca por uma Parilla 250, essa uma verdadeira moto esportiva de elevado desempenho !

Na oficina Brettoni, eram preparadas motos grandes inglêsas como Triumph Thunderbird 650, Norton Tiger 650, e a mítica Norton Commando. Todas devidamente testadas pelo "prestativo" Augusto !

Em 1966, aos 23 anos, Augusto compra uma MotoBi 125 Imperial, e em 20 de maio, estréia nas corridas, na prova de escalada Camucia-Cortona, na província de Arezzo.

O resultado é um 4º lugar ! Posição de muito respeito para uma estréia, repetido na segunda corrida em Mengara-Gubbio !

Com a moto que tinha a sua disposição, não se podia pretender muito mais.

A família de Augusto não estava muito contente com a sua nova paixão, mas todas as tentativas para convencê-lo do contrário foram em vão !

Seu pai, Ugo Brettoni, traça um plano para tentar acalmar o ardor esportivo do filho: 

O aconselha a participar do Giro Motociclistico d´Italia, uma grande e dura prova do passado, relançada pela Federação de Motociclismo Italiana, na fórmula Regularidade e Velocidade, onde o piloto vai só, sem nenhuma assistência mecânica, esperando que uma grande fadiga possa fazer-lhe passar a "fissura" pelas corridas.

Augusto compra uma Norton 750 modelo Atlas e parte para a prova !

Na dura prova, Augusto consegue bons resultados, chegando a vencer algumas etapas, até sobre o grande campeão Nello Pagani, mas tem que desistir, depois de várias quebras e muitos obstáculos ! 

Mas o 7º lugar na classificação geral faz Augusto voltar para casa desapontado, mas não se rende à vontade do pai, e pelo contrario, demonstra estar determinado à revanche !!

No final do ano, no Salão de Milão, fica "fulminado" pela BSA 650 Mach IV Special !

Decide comprá-la e com ela se inscreve no Giro Motociclistico d´Italia de 1968. 

Mas a moto não se mostra como prometia e não tem o resultado esperado, ficando apenas em 5º lugar, sem vencer nenhuma etapa sequer !

Depois disso, Augusto compra uma Ducati 250, a qual prepara pessoalmente.

Na primeira prova com a nova moto, no Circuito de Mura a Treviso, abandona por quebra do motor.

Mas na última parte da temporada participa de algumas provas menores com bons resultados.

O primeiro ano verdadeiro como corredor de Augusto, termina com saldo positivo, e de grande reconhecimento do "ragazzo" de Barberino Val d´Elsa como uma possível promessa !

No Giro da Itália, Augusto havia conhecido Stefano Rizzitelli, já um bom piloto da Laverda  com a qual havia participado de grandes maratonas de estrada como o Milano-Taranto, nos anos 50, e era agora o gerente esportivo da Casa de Breganze !

Esse encontro com Rizzitelli seria decisivo para a carreira de Brettoni, que logo seria chamado para testes na Laverda.

"Entrar para a Laverda é o que de melhor eu poderia aspirar" comenta hoje Brettoni.

Ao final dos anos 60, as fábricas, vêem nas provas de longa duração um bom veículo de promoção de seus produtos, e a Laverda também se interessa por esse tipo de competição.

A primeira corrida seria nas 24 Horas de Oss, na Holanda, num circuito de estrada, com uma Laverda SF 750 ... e Augusto, em dupla com ninguém menos que Massimo Laverda, titular da fábrica, vencem a prova na categoria acima de 500 cc, e ficam em 4º na geral !

No restante da temporada, Brettoni usa sua Ducati 250, alternando quebras e vitórias !

Em 1970, ainda com sua 250, Brettoni começa a temporada com um 3º lugar no campeonato italiano de Juniores.


Brettoni e sua Ducati 250 - 1970

Logo depois conquista uma bela vitória na prova Camucia-Cortona !

Novamente, a convite da Laverda, disputa a prova das 24 Horas de Oss, agora com Edoardo Dossena, e dessa vez obtém a vitória na geral !


Brettoni logo após a vitória das 24 Horas de Oss - Holanda - 1970

Um outro sucesso de Brettoni com a Laverda seria nos 500 Quilometros de Monza, desta vez em dupla com seu amigo Sergio Angiolini !

Em setembro, disputa o Bol D´Or no circuito de Montlhery, novamente com Angiolini. O resultado é excelente, ficando com o 3º lugar atrás apenas da Triumph Trident 750 oficial de Tom Dikie e Paul Smart, e da Honda 750 também oficial, pilotada por Peter Darvill e Chevallier ! Um ótimo resultado para a Laverda !

Para as últimas provas do campeonato italiano, Brettoni usa uma MotoBi, modelo "Sei Tiranti" da Equipe Imperiali de Roma, e fecha a temporada com uma ótima vitória !


Brettoni, com a sua MotoBi "Sei Tirante". Vitória ! 
Rimini - 1970

Em 1971, a FIM, o passa oficialmente para a primeira categoria de piloto e ele fica apreensivo pois sabe que agora sua responsabilidae será maior !

Assim, como a maioria dos pilotos privados da época, compra uma Yamaha TD2 250.

Na prova de abertura, Brettoni paga pela sua inexperiência com motores 2 Tempos e abandona com um cilindro travado !


Brettoni de Yamaha TD2 (nº 95) liderando o segundo pelotão. Nesta prova, fica em terceiro, atrás de Anelli e Walter Villa.
1971

Em 11 de abril, na Copa D´Oro Shell em Ímola, agora com sua velha conhecida Laverda 750 SF, Brettoni numa bela corrida vence com categoria !

No dia seguinte, corre a Copa Shell com sua Yamaha TD2, com um 7º lugar, e na categoria 500, disputa com uma Paton 500, com um 8º lugar ! Fôlego de maratonista !

Em maio, junto com seu parceiro predileto, Angiolini, disputam as 24 Horas de Montjuich com um novo modelo de Laverda, 750 SFC.

Numa corrida regularíssima, a dupla assume a ponta na décima hora para não largar mais até a bandeirada final ! Nova vitória !

Ótima também foi a apresentação no Bol D´Or de Le Mans, onde ficam em 2º, atrás apenas da tricilindrica Triumph 750 Daytona de Ray Pickrell e Percy Tait, debaixo de muita chuva !

Neste ano a Laverda não participaria das 500 Milhas de Thruxton, prova que resultaria decisiva para apontar o título da Copa Européia de Endurance da FIM, perdida por um só ponto, o que constitui um grande pesar para Brettoni ! Fica com o Vice-Campeonato !

 O ano de 1972 é uma temporada muito mesquinha de resultados.

Nos 500 Quilometros de Modena, quando estava liderando, uma mancha de óleo o tira da prova !

Nas 200 Milhas de Ímola, fica apenas em 9º  lugar.

Nas 24 Horas de Montjuich uma queda de seu companheiro, nessa ocasião, o fiorentino Moreno Pescucci, tira a dupla da disputa !

Vai mal também no Bol D´Or, disputado em Le Mans, onde a dupla Brettoni - Gallina, com a já testada 750 SFC disputa uma prova problemática, onde acontece de tudo um pouco !

E fecha a temporada com uma queda nos 500 Quilometros de Vallelunga !!


Brettoni em Vallelunga com a Laverda SFC - Queda !
1972

A nota positiva de toda a estação é a bela vitória conquistada no circuito de Zeltweg, na Áustria, com a nova Laverda 1000, triciclindrica, que vence na sua estréia, dominando de ponta a ponta a prova !

Em 1973, Brettoni disputa poucas provas ... 4 com uma Ducati 500, e a Mil Milhas de Ímola, com uma Laverda 750, onde termina em 15º lugar.

Na temporada de 1974, um grave acidente na prova "Figline-Quattro Strade" o deixa fora das pistas por muito tempo.

Seu retorno seria apenas em julho de 1975, nas 24 Horas de Barcelona (Montjuich), onde faz dupla com Nico Cereghini, pilotando uma Laverda 1000, mas que, por problemas eletrônicos, abandonam.

Em seguida, no final do mes, conquista um bom terceiro lugar na prova Mugello 1000.


Brettoni de Laverda 1000 em Mugello -1975

Mas Brettoni entra em crise de relacionamento com a Laverda, e desgostoso, fica por 2 longos anos (1976 e 1977) sem competir!

Em 1978, resolve voltar às pistas e vai disputar a prova 1000 Quilometros AGV, em Misano, prova noturna. Na categoria 500, em dupla com Corrado Tuzii, vence, com uma Laverda 500 !!

Logo em seguida, nova vitória, agora nas 24 Horas de Barcelona, também de Laverda 500 !

Em 1979, Brettoni repete a façanha, conquistando novamente a vitória da clássica prova catalã, as 24 Horas de Barcelona !

Nas temporadas de 1980 e 1981 Brettoni disputa apenas o Troféu Laverda 500, prova monomarca.

Por falta de estimulo para esse tipo de prova (curta), não se dedica aos treinos e à preparação com tanta paixão como seus adversários.

Fica com o Vice Campeonato em 1980 (2 vitórias) e em 6º em 1981, com uma vitória apenas.


Brettoni no Troféu Laverda - 1980

Assim, decide que é hora de se retirar das pistas !


Brettoni (nº 47) na sua última corrida ! Vitória !
Troféu Laverda - Mugello - Setembro - 1981

Hoje, Augusto Brettoni é um ponto de referência para os apaixonados pela Laverda, que tem a certeza de encontrar nele um amigo, e um especialista, capaz de resolver qualquer problema na moto.


O "expert" em Laverda !

A sua cordialidade não o impede de ser sincero, como um bom toscano, deixando pouco ou nada de espaço para interpretação de suas palavras.

"Preferia as provas de longa duração. Sem dúvida, o Endurance, em especial as 24 Horas, é um tipo de prova muito emocionante !"

O preparo físico do piloto e o trabalho dos mecânicos são o mais importante nas provas longas, onde o desafio é manter a reguralidade e a velocidade !" - lembra Bretonni.

E essa era a sua grande virtude, a garra, a determinação e o fôlego de maratonista !!

AUGUSTO BRETTONI

"O MARATONISTA"

 

Por Ricardo Pupo
Janeiro / 2005

Fonte: Motociclismo d´ Epoca, ano 9 nº 8 / 9

 

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Comentário dos Internautas:

 

MAIS UMA VEZ, PARABENS PELA RIQUEZA DE DETALHES E PELAS LEMBRANÇAS DE UM MONSTRO DO PASSADO.
RUBENS " RATÃO"
(RAGUIAR@CTEEP.COM.BR) Segunda Feira, 14 de Fevereiro de 2005, às 16:32:10


Muito bom, parabéns. fico muito emocionado por ter uma reportagem bela e real de uma lenda!
Paulo Oliva
(paulo.oliva@ig.com.br.) Segunda Feira, 28 de Fevereiro de 2005, às 00:51:26


Excelente a matéria, vocês estão de parabéns por resgatarem a trajetória de um monstro sagrado do motociclismo.
Cid B. Navas - "Cidão"
(cidnavas@tribodasmotos.com.br) Quinta Feira, 7 de Setembro de 2006, às 22:36:20


Fantastico! Sou fã deste cara! A matéria ficou perfeita! Ainda vou ter uma Laverda!!! Viva LAVERDA!!!
Cleverton Fernandes
 (clevertonfox@hotmail.com) Sexta Feira, 7 de Dezembro de 2007, às 16:52:38


Que matéria sensacional. Não conhecia o cara. Muito legal.
nome = Tabajara
email = tabajaraaparecidojorge@hotmail.com                    28/01/2014