CURVÃO DO COLÉGIO ESTADUAL

" MEIO MINUTO DE PRAZER" ...

 

Anos 70... Como foi bom ter pego um pouquinho dessa época, tive a oportunidade de pelo menos ouvir o ronco dessas motos maravilhosas quando eram praticamente zero km...

Era bem guri e na época no meu bairro em Curitiba, a maioria das ruas eram de uma cobertura de terra que aqui chamamos de macadame ou seja, saibro.

Era idos de 1976 e quando o então eleito prefeito Jaime Lerner inovou e modernizou a cidade em vários aspectos, criou um sistema inédito de transporte urbano com ruas canalizadas para ônibus, distribuindo e melhorando o tráfego que já demonstrava-se deficiente.

Com isso vieram os chamados "antipó", cobertura asfáltica bem superficial e ecônomica que resolveu de vez o poeirão criado pelos ônibus e automóveis que passavam estremecendo os portões e pilares de nossas casas típicas de madeira...

Foi bem nessa época que as motocas começaram a passear nas minhas bandas, comecei a observá-las e adimirá-las . Reluzentes Suzukis, encorpadas Fours , a grande variedade de modelos de pequeno porte das Yamahas e muitas outras marcas que não me recordo.

Quando eu ouvia um ronco delas vindo meio que estremecido e chorado, corria até o portão para obter meio minuto de emoção.

E elas passavam numa velocidade não muito grande porque o tal "antipó"  apesar de ser eficiente no seu propósito, era bem (ainda é) irregular e não se podia acelerar muito mas era melhor que o tal "macadame" ...

Como foi bom viver nessa época, apesar do momento que o país vivia não era dos melhores, a  proibição de importação das motos, regime militar estremecido, segunda crise do petróleo, leis absurdas de censura, FMI, Delfim Neto... e muitas coisas depressivas da época, foi bom viver nesse tempo...

Mas o povo brasileiro era ludibriado com a mega obra da Tranzamazônica e se sonhava em ir até a zona franca de Manaus de moto usada e voltar com uma novinha, o pior que muitos achavam que daria para fazer isso!!!

Mas lembrar dos anos 70 faz bem para o ego, apesar de tudo não se via tanto crime nas ruas como hoje e todos tinham mais liberdades em alguns aspectos.

As mini-saias... como eram bem curtas, óculos Raiban era a moda, comprar uma Crush e um Mirabel na cantina da escola era um ritual.

O evento mais esperado da semana era vestir a domingueira para ir ao Passeio Publico, único parque urbano da cidade para dar pipoca aos macacos e andar de pedalinho no lago artificial... Ah, como era bom isso...

Hoje mais velho e maduro não vejo muito por aí a piazada se divertindo como antes, estamos na era do "play-station" e muitos estão ficando albinos e cegos na frente disso.

As meninas de dez anos querendo ser como cantoras de grupos de música fúteis e sem rítmo nenhum que se exibem quase sem roupa nenhuma ensinuando-se para o sexo em horários comuns da TV.

É... os tempos são outros, mas de qualquer forma sempre devemos ter esperança que de muitos jovens sem futuro, um boa parte terá a oportunidade de ser alguém na vida e de ter a chance de andar de moto e ter meio minuto de prazer que seja, em realizar um sonho de criança, seja qual for a cilindrada , marca ou ano...

Dedico este depoimento aos anônimos meninos que ficam todos os dias sentados na mureta em frente ao Colégio Estadual do Paraná, e que param de conversar e torcem o pescoço quando escutam o ronco da minha 400F passando todas as manhãs quando me direciono ao meu trabalho...

Alexandre Pacheco dos Santos
Curitiba - PR
aletunari@terra.com.br