Edgar, Napoleão e a RD “Café”

 

Gostar de motos é uma coisa que surgiu em minha vida há muito tempo. Ao longo desses anos, vários foram os personagens que acabei conhecendo ligados a essa mesma paixão.

Com essa moda das Café Racer’s, acabei lembrando de mais uma daquelas adaptações que o pessoal fazia ao longo dos anos oitenta com motos da década anterior, buscando “compensar” a falta de novidades ou motos mais atualizadas, devido à proibição de importações que duraria até o final daquela década. Mas, antes da criatura, vamos aos personagens que a imaginaram.

Conheci o Edgar pela afinidade pelas motocicletas, ele tinha uma Yamaha TT 125 vermelha das primeiras que foram comercializadas, ainda no final dos anos setenta. Porém, sua família já tinha uma certa tradição motociclística. Por lá, já tinham passado uma Harley 125 e uma Yamaha de 50 cc que deve estar por lá até hoje. Não sei o modelo, mas é com certeza do início dos anos setenta e, além de bem acabadinha, chamava atenção pela cor e a proteção que encobria totalmente a corrente de transmissão.

Ele fazia parte de uma turminha que andava por São Pedro da qual eu não fazia parte, pois ainda não tinha moto, mas quando se reuniam em algum lugar, eu aproveitava para bater um papo sobre as máquinas.

As motos continuaram  presente ao longo de sua vida. Por alguns anos, ele teve uma oficina em São Pedro e intercalava esse trabalho com períodos em que pilotava ou cuidava da manutenção de aviões pelo país afora.

Tivemos a oportunidade de viver juntos uma aventura, quando fomos com outro conhecido a Tietê para assistir minha primeira corrida de motocross, sendo que tanto eu como o dono do carro, éramos menores de idade e, acabou falando mais alto a paixão pelas motos que o risco de se meter em uma encrenca.

Napoleão era um cara que parecia seguir a risca a fama de seu nome. Dado a atitudes pouco ortodoxas, era conhecido pela cidade na época por suas “invenções”. Ganhava a vida como piloto de avião e, nas horas vagas, também gostava e curtia andar de moto.

Houve uma época em que virou moda entre alguns “pilotos” de São Pedro, comprar motos que já não serviam para competições de motocross, ou, já haviam sido substituídas por modelos mais atuais.

Eis que o Napoleão entrou para a turma, porém, levando a coisa mais a sério, ou não, pois ousava um pouco mais que os demais. Certo dia, ele apareceu com uma Honda (CR?), que tive a oportunidade de pilotá-la até sua casa, depois de um tombo que ele levou em um treino.

Animado com a brincadeira, resolveu participar de uma prova para valer. Segundo as más línguas, já na primeira rampa, levou um tombaço e quebrou o braço, acabando aí sua carreira de piloto de motocross.

Consta ainda de seu currículo, um acidente na SP-304 com uma 400 Four onde, segundo dizem, caiu com a moto em uma curva, onde a mesma acabou debaixo de um  ônibus e pegou fogo, explodindo em seguida, sem que ele tivesse sofrido ferimentos mais graves.

A obra que reuniu esses dois personagens foi uma Yamaha RD 350 dos anos setenta. Não era exatamente uma Café Racer, mas o resultado chamava atenção. Eles adaptaram toda a “roupa” de uma Yamaha RDZ 125 na velha 350, dando a mesma um ar mais moderno pois, se não me falha a memória, ainda não existia por aqui a RD 350 LC. Não me lembro muito bem de detalhes dessa moto, pois não ficou por aqui por muito tempo, lembro apenas que era vermelha e tinha escapamentos esportivos da época.

Quanto a esses amigos, infelizmente não estão mais inventando aqui entre nós. Em momentos diferentes de suas vidas, ambos foram levados pela outra paixão, pilotando aviões no norte do Brasil. A eles, essa pequena homenagem, onde quer que estejam.

Carlos Trivellato
São Pedro - SP 
trivellato@speedybrasil.com.br