Graxa e chimarrão
Nos finais dos anos setenta, eu vivia, ainda, "comendo graxa" por aí...
Um dos meus amigos era o Carlos - não lembro mais seu sobrenome. conhecido como "Gaúcho", conhecido pelos motociclistas que andavam em "bando" na região que compreende Osasco, Jaguaré, Rio Pequeno e contíguas adjacências...
O Gaúcho comprou algumas Harley Davidson antigas - uma delas era uma 1946, da qual fui dono por pouco tempo - não lembro se eram duas, três ou mais.
As máquinas estavam desmontadas e o Gaúcho cismou de montá-las, passo a passo, nos fundos de sua casa, na Rua Narciso Sturlini, em terreno contíguo ao antigo Restaurante e Churrascaria Paulino, na área central de Osasco, próximo ao Paço Municipal.
Em uma sexta-feira, à noite, acredito que na lanchonete Baturité, na Vila Campesina, que foi ponto do pessoal dos "rachas" de carro e moto, surge o convite: vamos mexer nas motos amanhã?
Convite aceito, fui à casa dele, no sábado, às oito da manhã e surge o "patrão": - Pô, meu, já estou mexendo nas máquinas desde as seis e você chega agora?
Olho para o cara - cheio de graxa...
Vamos à faina, vou entrando e no terreno ao fundo da casa, um barracão, o terreno com mato crescendo e peças de HD por vários lados, enquanto no centro do terreno tem uma fogueirinha...
Para quê a fogueira?
"Para o mate", eu recebo em resposta.
Começo a lavar peças de um câmbio, com gasolina e, daí há pouco, vejo o cara com um bule enorme na mão e uma cuia em outra...
Estou com fome e, paciência, vamos ao chimarrão...!
Lavei outras peças, enquanto ele lavava outras e começo a ver surgir a esperança de ver uma HD aparecer em meio à profusão de peças...
Uma da tarde, cadê o rango? Nada!
Aparece uma garrafa: pinga!
Tome pinga e chimarrão e lá pelas quatro aparece um pacote de bolachas, mas a fome é muita...
Pinga e chimarrão...
Acaba a pinga, sobra chimarrão e começa a náusea, mas temos que trabalhar... às sete horas paramos e quando olho para um dos lados, vejo uma das HD com chassis e rodas no lugar, mas faltando o resto.
Vou embora para casa, pregado, enquanto ele iria tomar banho e sair com uma namorada, se não me engano...
No outro sábado, mesmo convite, mas estou com dinheiro no bolso para comer...
Uma das HD está ficando em pé, motor quase montado, guidão no lugar e câmbio montado, falta pouco para a bicha ficar montada.
Peças para limpar, chimarrão, nenhuma pinga, na hora do almoço comi um sanduíche no bar ao lado, às treze horas, a mãe dele, que havia saído, retorna com o pai, de uma feira, e logo depois o chama para almoçar, eu não vou, já comi, fico no quintal, mas paramos mais cedo, ele termina a faina às quinze, apareceu algo para resolver e a oferta: quer uma das Harley?
Resolvo adiar a resposta.
Durante semana eu o encontro: vai ficar com uma das Harley? Depois você me paga...
Vou à casa dele no sábado, uma das HD já está na rua e ele consegue ligar, ajustes de carburação a serem feitos e o pai dele, taxista, está ajudando-o.
De repente, a Harley estabiliza e ele some com ela, enquanto resta o pai para me entreter...
Na volta, mais de meia hora após, ele me convence: fiquei com a Harley 1946 - a dele é mais nova, 52 ou 53, se não me engano, mas sem promessas de ajuda para montá-la, nem pinga ou chimarrão...
José Wellington Porto
wellporto@yahoo.com.br
Osasco - SP