HISTORIA DAS QUINHENTONAS

                                  

 Minha história começa lá pelos idos de 1978,então com nove para dez anos, ouvia falar das 7 galos e as quinhentonas , mas minha realidade era uma CG 125 1977 que meu pai havia comprado para ele andar.

Meu pai  gosta muito de motos e quando começou a me ensinar a andar eu não  alcançava os pés no chão, então ele ia na carona para quando eu parasse ele servir de apoio . Quando consegui segurar meio desequilibrado aquela baita máquina na ponta dos pés foi um feito enorme , agora  sim sentindo a verdadeira emoção de pilotar uma moto. Foi quando começaram os primeiros e vários tombos, que não gostaria de citar, pois esta história é de alegria e não de tristezas.

Estávamos lá pelos idos de l982 , eu estava vidrado nas enormes CB 400 que eram as maiores motos nacionais. Uma tarde de um sábado chato que havia chovido, estou a queimar as idéias em casa, quando escuto uma melodia incrível que até hoje me vem a memória . Havia no bairro onde morava um primo que comprara uma moto que pouco  tinha ouvido falar, uma tal de 500 FOUR, quando ouvi aquele ronco fiquei louco e saí correndo para a rua, ele passou na frente da minha casa e com o calçamento molhado dava pequenas pegadas fazendo a moto sair meio de lado. Aquela moto seria a partir desta data o meu sonho de consumo, mas como com 14 anos ter verbas para tal ?

Comecei a trabalhar e a ganhar money, como a gente cresce e muda as prioridades da vida com ajuda de meu pai comprei um super fusca 1300, fui indo trocando de carro, mas sempre com o sonho da moto que devido as necessidades financeiras foram deixados para segundo plano. Uma certa vez comprei uma RD 250 que era uma 350 com kit da TZ a àgua e foram duas alegrias, na compra e na venda, tive outras motos pequenas, mas o sonho era a quinhentona.

Em janeiro de 2002  estava trabalhando quando, em uma cidade distante 100 quilômetros, vi em uma garagem de automóveis ela : A CB 500 FOUR, parei na hora nem fui visitar meus clientes, estava em estado de graça uma 500 ali para venda. Entrei na garagem e já fui pedindo o ano da máquina, o valor, tudo. Olhava de um lado de outro, não conseguia parar de examinar, quando o senhor pediu se eu queria ligar o motor um enorme sorriso me veio ao rosto. (a moto estava com um 4x1).  Peguei a chave bati o arranque e nada, sem bateria, comecei a bater pedal e quando já estava quase desistindo a bela deu sinal de vida, o som do motor aos poucos ecoando dentro da garagem e minha emoção já passando dos 12 mil giros. .

Não andei na moto mas pedi tudo sobre ela, soube que o proprietário era de outra cidade que eu visitaria à tarde, fui para lá com muita ansiedade e tristeza de ter deixado a moto, pois não tinha dinheiro para compra-la. Conversei com o dono da moto que também era um apaixonado pelas 500, e aquilo me deixou ainda mais louco para tê-la. Chegando em casa a primeira providência : Levantar recursos.

Comecei pelo banco "pai " que estava com outros investimentos mais seguros e negou-me o empréstimo, fui falar com um amigo para fazer um empréstimo em nome de sua empresa já que sou profissional  liberal fica difícil comprovar renda, não conseguimos, fiz uma proposta indecorosa ao dono da moto, suaves prestações, mas também não deu  certo. Já não conseguia trabalhar direito só pensando na moto até que um dia olhando um jornal vi que a caixa econômica estava liberando empréstimo para capital de giro e pensei: tenho uma empresa de representação, e moto serve para girar, não tive dúvidas fui ao banco.

Falei com o gerente que precisava de um empréstimo e fui atrás da papelada, a coisa não foi fácil como toda a história da moto, mas consegui. No dia que peguei a grana na mão liguei correndo para o dono da moto e fui atrás da máquina. Ela estava lá linda e maravilhosa só me esperando, foi um dia muito feliz.
Esta é minha breve historia da vida real, este ano já tive alegrias com a moto e tristezas quando quebrou a caixa, mas quando se compra uma clássica a gente sabe que até não fazer todas as reformas necessárias tem alguma coisa que pode quebrar.  Estou reformando todo o motor com o Alberto Rech ,  e eu mexendo no resto, pois sempre gostei de mecânica, sei que quando a moto estiver pronta vai ficar muito boa e só me trará alegrias.
No inicio de 2003 a máquina ficou pronta, e o motor novo com peças originais soa como uma orquestra sinfônica, agora sim uma melodia que enche o ambiente. Fiz algumas viagens com a moto e quase não me continha dentro do capacete, andar com uma 500 FOUR não é andar de moto, mas sim andar com a história de uma montadora, e só quem pode ter este prazer sabe do que estou falando.                 

                                                 

 *A propósito o nome da moto é: SOPHIE*
                                   

Marcelo Bonotto
Caxias Do Sul - RS
m.bonotto@terra.com.br