As motos da década de 70 no Brasil



 
Eu sou motoqueiro da década de 70, época em que éramos marginalizados, nos cinemas os motoqueiros sempre eram rebeldes sem causa, começou com o filme O SELVAGEM que só foi quebrado no filme SEM DESTINO aonde pela primeira vez se mostrou os motoqueiros vitimas do preconceito, nessa época nós motoqueiros éramos muito unidos, ao cruzarmos com outra moto cada um dava um toque na buzina para se cumprimentar sem ao menos se conhecer, costumava me encontrar com um grupo de motoqueiros no parque do Ibirapuera e em tom de brincadeira nos chamávamos de esquadrão bobeira, mas do esquadrão bobeira sairam grandes nomes do motociclismo como Edson Luiz da Silva (TCHEK-TCHE)  campeão da 125 que na época tinha uma CB125S, Carlos Ourique ( Scateninha ) campeão da 250 no motocross na época com uma TS185, Cláudio Giroto com CB50 e Marco Antonio Grecco ( lagartixa) com a sua RD250 marrom.

 Quem foi motoqueiro nessa época sabe que nunca mais será a mesma, costumávamos nos reunir no Café concerto no Ibirapuera, Janda na Brig. Luiz Antonio, rua Augusta e Rick Store na Brig. Faria Lima esse ultimo fechou em 74 e em 75 o então prefeito de São Paulo Olavo Setúbal (acho que é assim que se escreve) fechou o parque do Ibirapuera para as motos, mas com uma manifestação que os motoqueiros fizeram ele reabriu parcialmente, mas sem o café concerto (café / restaurante) que ficava bem em frente ao 8 (ou zero como alguns preferem chamar), local aonde se fazia o exame de motos que tinha até uma rampinha no meio e nos finais de semana os motoqueiros ficavam rodando mostrando as suas ´´habilidades``(hoje e só um estacionamento), no meio dos anos 80 o então prefeito de São Paulo Mario Covas fechou o parque do Ibirapuera de vez para as motos por decreto lei e acabou a referencia dos encontros para os motoqueiros.
  As motos nessa época eram para aqueles que realmente sabiam pilotar, a suspensão não era monoshock e nem o quadro era do tipo delta-box, em questão de potencia a Kawasaki com a sua linha SS (ou MACH) 2T 3 cilindros era a referencia, a ss350 que empinava na terceira a ss750 que se acelerasse bruscamente na curva ´´saia de baixo``era comum à traseira passar pra frente numa rodopiada, agora a ss500 no primeiro modelo com 60hp 200km/h de velocidade final o fabricante mostrou seu humor negro colocando freio a tambor na roda dianteira corrigida logo em seguida com freio a disco, a Kawasaki Z900 era o sonho de todos os motoqueiro na época no Brasil, mas a marca não entrou oficialmente por isso quem queria ter essa marca teria que ser através dos importadores independentes.
  A Honda como hoje dominava o mercado mundial e o Brasil com a sua qualidade no acabamento e durabilidade dos 4 tempos, entre as grandes a CB 500/550four e a lendária CB 750K four e o que mais se via, entre as medias a CB400four, CB360 e a CB350 sem dizer da trail XL 250 é entre as pequenas a CB125s de um cilindro CB125t dois cilindro e a CB50, havia muitos outros modelos da marca, mas essas eram as mais comuns.
 A Yamaha tinha a sua linha 2 tempos com a RD125, RD200, RD250 e a famosa viúva negra RD350, havia outras como a YB50, FS1, LS3, AS3, R5, etc..., Entre as trail a DT 125/250, AG 100, mini enduro 50 e as 4tempos com a XS 650 e a linha TX 500/650/750, em competições que foi a melhor fase do Brasil no motociclismo, a Yamaha dominava com as TR2, TR3 e a sua  famosa  TZ350 alias a única moto especial de competição aqui na época.
  A Suzuki tinha a linha A50, A100, T500, etc..., e as mais belas motos com as GT 380/550/750 3 cilindros 2 tempos a GT750 refrigeração liquida e as GT 100 (hum cilindro)/125/185/250 dois cilindros, entre as trail a linha TS 125/185/250, os primeiros modelos da GT750 também veio com o freio a tambor, mas o motor não era a violência da ss500 da Kawasaki, em compensação a Suzuki colocou freio a disco duplo logo em seguida.
  Havia muitos outros modelos e outras marcas como a BMW, Ducati, Zundap, Jawa, Morini, Norton, Harley Davison, Indian e muitas outras, mas difíceis de serem vistas, pois as motos Japonesas tinham o monopólio do mercado.
   As motos comentadas aqui são de até o final de1975 quando se fechou a importação no Brasil que só reabriu no inicio dos anos 90, mas nessa lacuna de tempo vieram as nacionais com a Yamaha sendo a pioneira com a RD50 lançada em 1975 e a Honda em seguida com as CG125 em 1976, também as Haley Davidson (motovi) de 125 e a 1200 cilindradas, quando digo pioneira me refiro às motocicletas porque bem antes já se fabricava motonetas como a lambreta e a xispa pela B.P.que detinha o direito de fabricar motos de mais de 200cc no Brasil que foi comprada pela Motovi depois pela Honda que se antecipou ao interesse da Kawasaki sem dizer da Suzuki que chegou a entrar no Brasil se unindo a Hatsuta para fabricar as GT 100 e a GT 380, mas infelizmente não foi adiante.
 Bom eu sou admirador das dois tempos e considero a GT750 da Suzuki a mais bela de todos os tempos, mas o meu fascínio cai sobre a SS750(mach IV) da Kawasaki apesar disso assim que me recuperar de uma crise financeira que estou passando atualmente pretendo comprar uma TX650 que com os seus dois cilindros e o motor ´´roletado`` que nunca me deixou indiferente.
 Eu morei 8 anos no Japão e era comum encontrar pessoas tentando fechar o lote no contêiner com as Ninjas, mas eu tinha um interesse em trazer uma Mach IV, mas ao verificar a documentação necessária para importar veiculo usado precisaria ter 30 anos de fabricação e ter um valor histórico este ultimo talvez uma carta de um moto club daqui do Japão talvez resolvesse, mas os 30 anos na época em 97era um problema e acabei desistindo da idéia.
 Aqui no Brasil achava que seria um problema grande ter uma moto clássica dos anos 70, mas ao conhecer este site percebi que eu não era um admirador isolado destas motos e que tem lojas e oficinas especializadas me animando bastante em ter uma clássica.
 Atualmente tenho uma Agrale SXT 27.5, mas não que a considere uma clássica, mas após ter 4 motos roubadas a ultima 2 meses após me roubarem o meu carro resolvi comprar uma Agrale que esse nem ladrão que saber, mas confesso que aprendi a gostar dessa moto e ela não é tudo que as más línguas falam dela.
  Vou parando por aqui  apesar de ter muito mais pra dizer por que me empolgo um pouco quando falo sobre estas motos e a época que foram as melhores que eu tive.

Edson Kazuhiro Baba

São Paulo - SP  edsonkb@ig.com.br