PERSONALIDADES JACK FINDLAY "THE FLYING KANGAROO" |
Ser chamado de velho aos 40 anos é em geral pouco lisongeiro ! Mas no caso do piloto australiano Jack Findlay, o termo é frequentemente usado como um elogio.
Isso porque em 1978 Jack era o mais velho de todos os pilotos de Grande Prêmio.
A maior parte dos campeões entra em declínio por volta dos trinta e cinco anos, mas Jack continuou a apresentar-se no topo, ano após ano, e venceu o seu campeonato mais importante aos 40 anos de idade !
Um piloto que trabalhou duro, dedicado, determinado e convicto do que queria ...
Em 5 de fevereiro de 1935, nascia na cidade de Mooroopna, na Austrália, o garoto batizado de Cyril John Findlay.
Com 10 anos de idade, Cyril vê uma foto de uma moto de corrida e decide que sua vida seria ligada a essa imagem ... sua trajetória estava traçada !
Aos 15 anos, para poder correr de motocicleta, Cyril, "pega emprestada" a carteira de habilitação de seu pai, Jack, e desde então, adota esse nome, como é conhecido até hoje.
Em 1958, decidido a ir atrás de seu sonho, Jack abandona um emprego num banco de sua cidade, e vai se aventurar na Europa.
Tudo o que ele tinha era uma enorme vontade de correr e no esforço para realizar suas aspirações, sofreu todo tipo de decepções.
Tenta várias vezes disputar o famoso TT da Ilha de Man, mas sempre tem que abandonar a prova.
Sem dinheiro, sem apoio, com uma sucessão de problemas mecânicos, acidentes, e outros entraves, que fariam qualquer outro um pouco menos decidido, voltar correndo à Austrália !
Mas Jack resistiu e, em 1961, começou a colecionar uma série de colocações promissoras, como um sexto lugar no GP da Itália e um quinto na Alemanha, ambos na categoria 500, com uma Norton.
Em 1962, disputa apenas algumas provas e consegue um quinto na Bélgica, com sua Norton monocilíndrica.
O ano de 1963 seria mais animador, pois termina o ano em 8º lugar na classificação geral da categoria 500. A vitória ainda não havia chegado, mas consegue um belo segundo lugar no GP da Itália. Sua moto agora era uma Matchless.
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Mas se 1963 foi bom, não se pode dizer o mesmo das temporadas de 1964 e 1965, onde conquista apenas um quarto e um quinto lugares.
Na Ilha de Man, com uma DKW, Jack fica em 10º na classe Light 250.
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Melhores resultados o esperavam para o ano seguinte, em 1966, em que desde o início consegue ótimas colocações, que o revelam como o melhor piloto privado das 500 !
Somando 21 pontos, Jack fica em 3º lugar na classificação geral, atrás apenas dos grandes pilotos de fábrica, Giacomo Agostini, o campeão, da MV Agusta, e Mike Hailwood, da Honda !
Na categoria 250, com a 7ª colocação, seria o melhor piloto privado da categoria com uma Bultaco.
Na Ilha de Man Jack fica em 8º na categoria Senior (a principal) com sua Matchless.
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Surpreendentemente, nenhuma equipe oficial levou isso em consideração, e para 1967 novamente Jack iria participar do mundial como piloto privado, com sua fiel Matchless.
Nesse ano, novamente Giacomo Agostini é o campeão, com Mike Hailwood em segundo ... Jack fica em quinto, mas tendo uma boa participação, até mesmo levando em conta que os seus fortes adversários.
Na categoria 250, fica em 7º na classificação final, pilotando uma Bultaco.
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O ano seguinte, 1968, se mostrou seu melhor ano, já que terminou quase todos os Grandes Prêmios em segundo lugar, superado apenas por Giacomo Agostini, que venceu todas as provas da temporada, com a sua poderosa MV Agusta.
E a moto usada por Jack ainda era a mesma Matchless monocilíndrica, de seis anos atrás, que havia comprado de Bob MacIntyre !
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O ano de 1969, transcorre sem que lhe venha nenhuma proposta. A decepção talvez tenha influído no seu rendimento. Jack até hoje considera essa sua pior temporada.
Sua Matchless, teria ficado muito ultrapassada, mas a escolha das novas motos seriam um desastre ... uma Linto 500 e uma Aermacchi 350.
Nesse ano, foi realizado, pelo cinema francês, um documentário chamado "Continental Circus", sobre corridas de motocicletas, mostrando suas dificuldades e perigos. A história apresenta dois oponentes principais. Jack Findlay e Giacomo Agostini. Mostra como Jack se mantém na disputa, graças a sua garra, disposição e o apoio de amigos, correndo com motos ultrapassadas, sempre tendo acidentes, contrastando com Agostini, o atual campeão, com todo o patrocino que precisa, um playboy conhecido, e sempre vencendo suas corridas de forma limpa e sem acidentes.
Seu melhor resultado da temporada seria no TT da Ilha Man, um 3º lugar na categoria Junior, com a Aermacchi.
Porém, a partir de 1970, os resultados voltam a aparecer.
Agora de Suzuki TR 500, com chassis Seeley, Jack fica se classifica entre os dez primeiros da temporada nas 500 cilindradas.
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Em 1971, finalmente sua primeira e merecida vitória. Foi no GP de Ulster na Inglaterra, com direito à volta mais rápida também, com uma Suzuki 500 !
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Fica em 5º no mundial.
Em 1972, Jack e Daniele Fontana projetam um novo chassis, para colocar o motor de 500 cc da Suzuki. Ele é mais leve e mais forte, do que o chassis da fábrica e mais versátil que o da Seeley. Eles a batizam de "Jada".
Com ela, Jack termina a temporada na nona colocação, com um 2º e um 3º lugares.
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Disputou também as 200 Milhas de Ímola, com uma Moto Guzzi.
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Em 1973, Jack consegue realizar o grande sonho de sua vida - A Suzuki Itália lhe oferece uma oportunidade de correr pelo seu time oficial, na categoria 500 e na recém criada FIM 750.
E Jack não decepciona ... na FIM 750, fica em terceiro lugar e nas 500, vence a mais dura prova válida pelo mundial, a categoria Senior do famoso Tourist Trophy da Ilha de Man !
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Em 1974, novamente defendendo a equipe oficial da Suzuki, Jack recebe uma nova 500, refrigerada a água, de 4 cilindros, e uma TR 750.
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Fica em 5º nas 500 e em 3º na Fórmula 750.
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Para 1975, a Suzuki, por considerar Jack "velho", com 40 anos, não renova seu contrato.
Mas Jack, novamente bancando suas despesas, troca a Suzuki pela Yamaha.
E mostra que ainda tem muita garra e disposição, levando o seu primeiro título de campeão, vencendo a Fórmula 750, com uma TZ 750 !
Esta determinação valeu para Jack o título de "Piloto do Ano", oferecido pela British Guild of Motoring Writers.
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Em 1976, ele volta a competir com uma Suzuki RG 500, a qual ajuda a desenvolver nas pistas.
O ano de 1977 começa polêmico para Jack.
O GP da Áustria, das 500, em Salzburgring, seria boicotado pelas grandes equipes de fábrica e apoiado por outras equipes menores, em protesto contra a organização, devido à confusa prova das 350, que teve muitos acidentes.
Jack seria um dos poucos pilotos a largar, e vence a prova, atraindo para si muitas críticas. Mas Jack justifica que sempre correu com poucas condições, sendo sempre um dos mais prejudicados, e que o perigo faz parte da profissão de piloto de motos !
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Jack é verdadeiramente um homem de forte personalidade e tem suas convicções, sem ligar para o perigo, inclusive a de não usar capacete integral, que lhe dá sensação de claustrofobia !
A temporada de 77 não é mesmo de sorte para Jack, pois logo em seguida, em Ímola, sofre uma grave queda, ficando de fora por várias provas ... desta forma, fica em apenas 16º na classificação final das 500 e marca apenas 3 pontos na 750.
O mau resultado da temporada acaba desencorajando Jack, que já está com 16 anos de carreira e 42 de idade.
Em 1978, participa das 24 Horas de Bol D´Or, terminando em 4º lugar, e se retira oficialmente das competições !
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Jack, que desde 1973 era patrocinado pela Michelin, fabricante francês de pneus, agora é contratado para desenvolver os pneus radiais e slicks.
Ele deu a primeira vitória para a Michelin em 1973, na categoria 500 no TT Senior da Ilha de Man.
Por 10 anos exerceu essa atividade.
Foi também diretor de competições do campeonato mundial de motovelocidade e responsável por todos aspectos técnicos das modernas motos e seu desenvolvimento.
Hoje, mora em Paris e vive com sua esposa Dominique, que o acompanhou por muitos anos pelas pistas da Europa.
Foram 101 Grandes Prêmios disputados, com 24 pódios, 3 vitórias e um título de campeão ... pode parecer pouco, mas para quem disputou por 15 anos como piloto privado, tendo que preparar suas motos (geralmente ultrapassadas), morar numa Van, viajar dirigindo por toda a Europa, arcar com todas as despesas, e enfrentando todas as dificuldades, só mesmo com muita garra e determinação !
Pilotou várias marcas como, Suzuki, Yamaha, Moto Guzzi, Aermacchi, Linto, Matchless, Norton, Bultaco, Mondial, Bridgestone, DKW, Maico, AJS, e Honda, de 50 a 750 cilindradas, mostrando sua grande versatilidade.
Que fique o exemplo para todos, que com determinação, trabalho e persistência, os sonhos podem se tornar realidade, como mostrou esse grande piloto ...
JACK FINDLAY
"THE FLYING KANGAROO"
E como tudo, infelizmente, tem um fim, o grande Jack rendeu-se a um enfisema pulmonar, vindo a falecer em 19 de maio de 2007, aos 72 anos...
* 05/02/1935
+ 19/05/2007Por Ricardo Pupo
Colaboração: Goran Slavic
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Comentários:
Comentário dos Internautas:
sempre observei o Jack e sua carreira um piloto de verdade sorte pra ele
ivan de jesus e silva
(ivandejesus51@ibest.com.br) Sexta Feira, 14 de Abril de 2006, às 13:21:43
Bela matéria!
Christian Spoto
(christianqs@hotmail.com) Domingo, 16 de Abril de 2006, às 01:27:00
Tive o previlégio de conhecer Jack Findlay quando trabalhei no resgaste do GP RIO nos anos de 95, 96 e 97. Agora que conheço a sua historia, vejo que estive com uma lenda viva. Grande piloto.
othon voador russo
(othonrusso@yahoo.com.br) Segunda Feira, 24 de Abril de 2006, às 20:51:38
Big Jack!
Tabajara A.Jorge
(mirassumpcao@terra.com.br) Domingo, 11 de Junho de 2006, às 16:32:17
Impressionante é ver o cara voando de moto praticamente sem capacete, como isso era permitido, já em 78 no Bol D´Or ?
Realmente corajoso.
Beco
(beccu@ig.com.br) Sábado, 24 de Junho de 2006, às 19:58:47
Também como Othom Russo, tive a oportunidade de conhece-lo, quando trabalhei no GP Brasil em São Paulo no ano de 1992.
Pessoa simples e atenciosa, que só revelou alguns de seus feitos, depois de três dias de convivência com a gente.
O engraçado foi que um piloto local opinou que na época que ele andou a técnica não era tão desenvolvida, e colocou em duvida se ele andaria bem com as motos atuais.
Todos que escutaram a conversa foram unânimes em afirmar que com certeza ele andaria bem com as motos atuais.
Parabéns pela homenagem a este grande piloto da história do motociclismo de velocidade.
SDS
Marcos Albuquerque
Londrina-PR
(mma@webcertidoes.com.br) Quinta Feira, 26 de Outubro de 2006, às 11:41:02
Ainda está na minha mente de adolescente o seu nome e as suas proezas, juntamente com muitos outros do seu tempo!
Rana
(rana145@gmail.com) Quarta Feira, 5 de Março de 2008, às 17:25:27
isto que é piloto, nesta época não exista tanta tecnologia, parabens pela força no braço ééé...
nome = garrote amparo
email = paulistahondamecanico@hotmail.com 21/03/2011