CARLOS ALBERTO LAVADO JONES

CAMPEÃO MUNDIAL 250

1983

25 ANOS DO PRIMEIRO TÍTULO !


Carlos Lavado, um personagem pitoresco, polêmico, franco e direto, mas acima de tudo, terrivelmente veloz, como não víamos desde a prodigiosa geração de Cecotto, Palazzese e Nannini.

Em suma, um piloto de outros tempos !

Em 31 de julho de 2003, completou-se 20 anos do primeiro título mundial das 250 ! Lavado foi coroado em Silverstone !


Acabara de consagrar-se campeão mundial, mas estava furioso !

Não havia punhos para o alto, nem a intenção de apanhar a bandeira, e nem saudação efusiva aos fãs, costumes que por sorte se mantém até hoje, e que, esperamos, prossigam no motociclismo mundial ! Os mecânicos da equipe Venemotos e seus amigos o cercaram para felicitar-lo, mas Lavado estavam soltando faíscas porque não pôde subir no pódio, objetivo que lhe escapou por 1 décimo !

Foram necessários vários minutos para que o bigodudo piloto de 27 anos voltasse à razão e compreender que o 3º lugar não teria maior valor, uma vez que a certeza matemática de conquistar o título havia chegado com o quarto lugar conquistado na pista de Silverstone, cenário da décima e penúltima prova do Campeonato Mundial de 250 cc do ano de 1983 !

Era o auge de uma fulgurante trajetória esportiva que começara em 1976 nas ruas de Puerto Ordaz, no estado de Bolivar, sobre uma moto de 400 cc na categoria Força Livre, seguida de uma assombrosa estréia no Mundial de 1978 em San Carlos onde com uma máquina de corrida praticamente "de rua", foi segundo na categoria 250 atrás de um jovem americano chamado Kenny Roberts. Logo vinha a primeira viagem à Europa, o ingresso na Equipe Yamaha-Venemotos e uma série de vitórias na 250 e 350 cc, que foram superadas por inúmeras quedas e múltiplas faturas. Apesar dos percalços, no Continental Circuns ninguém duvidava que em velocidade pura, Carlos Lavado era o melhor !

Seu mentor e protetor, Andréa Ippolito, soube levá-lo esses anos com paciência e mão dura também.  Porém, naquela nublada tarde britânica Don Andréa não pôde estar presente ... Meses antes, quando a temporada estava para começar, o homem que transformou o motociclismo desportivo venezuelano e latino-americano iria sofrer em seu coração o que o próprio havia chamado de, uma irreparável "quebra de motor", deixando um enorme vazio, que poucos acreditavam poderia ser tão grande ! (Andrea Ippolito faleceu de infarto)


1983: DOIS MUNDIAIS EM UM

A temporada de 1982 marcou o adeus da categoria de 350 cc, uma das mais tradicionais do motociclismo mundial, a mesma que havia consagrado em 1975 o fenomeno venezuelano de 19 anos, Johnny Cecotto. Esta decisão da FIM deixava como única divisão intermediária a quarto de litro, cujo título estava em poder do francês Jean Louis Tournadre, que superou por apenas 1 ponto o alemão Anton Mang com sua Kawasaki de fábrica.

Quando não voltava aos boxes a pé ou de ambulância, Carlos Lavado era o único piloto que com sua Yamaha privada podia medir-se sem complexos com as motos verdes que levavam o sul-africano Korg Ballington e o australiano Greg Hansford à ponta e o também o francês Jean François Baldé e especialmente Anton Mang. Claro que o preço por tentar seguir-lhes os passos lhe custaram dezenas de tombos, algumas delas tão graves como a sofrida em Ímola em 1981, onde fraturou a perna em 7 lugares, ou na mesma Itália no ano seguinte, quando em Mugello quase perde sua perna direita. E falamos de quedas em cenários que hoje pareceriam irreais, como como os circuito de rua de Imatra na Finlândia, ou Brno na Checoslováquia enquanto nas demais pistas homologadas, os guard-rails e o muros estavam "protegidos" por fardos de feno e por telas metálicas com estacas de madeira colocadas a 5 metros do asfalto.

As perspectivas e prognósticos para a campanha de 1983 eram incertas pois salvo a ida de Mang para as 500, os demais agora iam se concentrar em uma categoria. A Equipe venezuelana Venemotos-Yamaha voltava a ter 2 integrantes em sua fileiras, ao integrar-se o jovem Ivan Palazzese, brilhante terceiro colocado no Mundial das 125 aonde somou duas vitórias. Desde 1980, última temporada de Cecotto nas motos, a equipe sul-americana não tinha dois corredores, mas os bons agouros foram golpeados pelo inesperado desaparecimento do chefe Ippolito e a terrível crise financeira da Venezuela melhor conhecida como "a sexta-feira negra" onde o controle do câmbio da moeda acabou com décadas de prosperidade ilimitada.


Equipe Venemotos
Na moto nº 5 está Carlos Lavado. Na moto nº 23 está Ivan Palazzese. Em pé de bigode, o chefe de equipe, Ferruccio Dale Cusuine (Experiente piloto venezuelano)

NA ÁFRICA DO SUL COMEÇOU A LUTA

Em plena vigência do sistema Apartheid, ou discriminação racial sul-africana, se inicia a temporada no circuito de Kayalami, pista localizada a mais de 1700 m de altitude e onde as artesanais Chevallier de Jean François Baldé e Didier de Radigues dominaram facilmente, seguidos por menos de meio segundo por Hervé Gullieux e sua Kawasaki. Carlos Lavado ficaria em sétimo a 20 segundos, enquanto seu companheiro de equipe Palazzese ficava no último posto de pontuação, o décimo lugar. Na época, a distribuição de pontos era 15 para o vencedor e sucessivamente 12, 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, e 1 para as colocações posteriores.


Início de temporada !

A segunda prova ocorre em Bugatti, no circuito curto de Le Mans, na França, onde a chuva transtornou os planos de todos e apareceu a surpresa de um jovem britânico de 18 anos chamado Allan Carter, que ao comando de uma Yamaha, quebrara a marca como o mais jovem a vencer uma corrida de GP, superando o registro de 1975 de Johnny Cecotto, piloto que à sua vez, havia superado a marca que deixara um tal Mike Hailwood em 1959. Os garotos da Venemotos não marcaram pontos naquela ocasião, enquanto a liderança do torneio era assumida pelo belga De Radigues.


Lavado - França - Não foi um bom desempenho !

Chega então o clássico Grande Prêmio das Nações, no circuito de Monza. Após uma década, o cenário italiano recuperava seu lugar no calendário depois dos terríveis acidentes de maio de 1973, quando perderam a vida o finlandês Jarno Saarinen e o italiano Renzo Pasolini, campeão e vice-campeão de 1972 da categoria 250 cc. Com médias superiores a 170 km/h, dois jovens atrevidos de 21 anos encabeçaram a dança até a última volta. Seus nomes ? Ivan Palazzese e Alfonso Pons, melhor conhecido como Sito. No empenho de conseguir manterem-se à frente, a três curvas da bandeirada tanto a Yamaha do venezuelano como a J.J. Cobas do espanhol foram a chão, em manobra sincronizada, quando contavam com mais de 10 segundos de vantagem sobre Carlos Lavado que por sua vez se encontrava distanciado do resto do pelotão. Semelhante "obséquio" não era usual a Lavado receber, pelo contrário, era ele quem estava acostumado a dar esses "regalos" a seus rivais !


Lavado (nº 5) largando na frente na Itália

O triunfo em Monza permite ao antigo estudante de engenharia entrar na luta pelo título com 19 pontos, a apenas 5 de Jacques Cornu que soma 24 pontos. 


Pódio do GP da Itália

O próximo confronto é em Hockenhein, na Alemanha e debaixo de chuva, Lavado obtém sua segunda vitória consecutiva que lhe permite tomar a frente na classificação com34 pontos, com 2 de vantagem sobre De Radigues. 


Lavado no pódio da Alemanha. De azul, De Radigues.

Em Jarama, na Espanha, Lavado é apenas o sétimo, enquanto o belga não pontua, resultado que repete em Salzburgring, Austria, sendo deslocado da liderança pelo próprio De Radigues, que agora soma 44 pontos, contra 42 do venezuelano, seguidos dos francêses Gullieux de Kawasaki, Sarron de Yamaha e do alemão Manfred Herweh de Real Rotax.

EM ASSEN, VENEZUELA DEIXA UMA MARCA INDELÉVEL

A sétima etapa do calendário, se disputava na Yugoslávia, em Rijeka, e lá, Lavado leva o 1º lugar, que lhe devolvia a liderança na tabela, êxito que se consumava com a retirada de De Radigues , com a qual Carlos chegava aos 57 pontos. 


Mais uma vitória - Yugoslávia 

Sem dúvida, a melhor apresentação estava por chegar em Assen, Holanda. A "Catedral" sempre foi uma pista talismã para Lavado onde já havia conseguido, em 1980, com uma acertada escolha de pneus intermediários (sugeridos por Cecotto), sua primeira vitória na Europa. Essa vez, no TT Holandês, Carlos iria celebrar no mais alto do pódio acompanhado por seu companheiro de equipe e compatriota, Ivan Palazzese, piloto que por uma vez teve a sorte a seu lado. A pole position e a melhor volta da prova também foram para Lavado, que lhe davam 72 pontos, sendo que De Radigues marcava outro zero na sua pontuação, mantendo-se em segundo com 48 pontos. O título estava mais perto !


Lavado com Sarron na sua cola - Holanda

Foi a primeira dobradinha da Equipe Venemotos na categoria de quarto de litro e o primeiro e único de sua história com dois pilotos venezuelanos. Quatro temporadas atrás, em 1979, na pista de casa, San Carlos, Carlos Lavado e o italiano Walter Villa presentearam o patrão Ippolito com a dobradinha na categoria 350 cc, na que seria a primeira das 19 vitórias do venezuelano no motociclismo mundial. Sem querer desmerecer os triunfos dos argentinos Guillermo Kissling e Benedicto Caldarella nos GPs de seu país na categoria 500 cc nas edições de 1961 e 1962, respectivamente, onde foram secundados pelo também argentino Juan Salatino, todavia naquelas oportunidades não havia maior presença de pilotos de outras nações, sendo assim, os resultados eram previsíveis, daí o valor histórico da dobradinha de Lavado e Palazzese, único em território europeu para corredores latino-americanos.


A grande dobradinha - Lavado e Palazzese - Assen

De volta à temporada de 1983, o próximo confronto seria nos Países Baixos, esta vez no renovado  Spafrancorchamps da Bélgica cujos 14 quilômetros de pista foram modificados a pouco mais da metade, conservando boa parte de seus terríveis encantos. Como era previsível, o piloto local, Didier De Radigues venceu, seguido de Sarron, e de um calculista Lavado, que não quis se arriscar mais no traiçoeiro piso úmido das Ardenas. 


Correndo com  a cabeça !
Bélgica - 3º lugar

Dos boxes, Ferruccio Dalle Fusuine, multi-campeão venezuelano dos anos 50, 60 e 70, já não só se ocupava com a chefia da mecânica, como também da estratégia de corrida, já que o jovem Vito Ippolito, filho maior de Andréa, apenas começava a participar das corridas.

A CONSAGRAÇÃO NA GRÃ-BRETANHA 

Chegava então 31 de julho de 1893, a décima etapa do calendário, correspondente ao Grande Prêmio de Inglaterra, em Silverstone, sede que desde 1977 substitui a confusa Ilha de Man, onde mais de uma centena de pilotos haviam perdido a vida desde o começo do século. No autódromo de Silverstone as médias de velocidade superam os 180 km/h, com numerosas curvas de quinta no fundo, ideal para exibir a coragem dos mais ousados. Ao dispor de 19 pontos de vantagem sobre seu mais próximo rival e com 30 pontos em jogo nas demais provas, a Lavado só bastava ser quinto para assegurar o título.

Como se fosse uma corrida de 125 cc, a prova de um quarto de litro se apresentava com um compacto pelotão de até 10 pilotos separados por apenas 2 segundos. 


De Radigues está logo a frente de Lavado (nº 5), seguido por Herweh (nº 19), Guignabodet (nº 8) e Wimmer (nº 4)

A "armada francesa" integrada por Bollé, Fenandez, Espie, Sarron e Rapicault frente aos alemães Wimmer, Herweh e Roth, e o japonês Fukuda, e os protagonistas, Lavado e De Radigues. Após 24 voltas de frenéticas batalhas, a bandeira quadriculada é mostrada a Jacques Bollé de Pernod, um décimo à frente de Thierry Espie com uma Chevallier, pódio completamente francês, graças a Christian Sarron com uma Yamaha da Equipe Sonauto Gauloises. Mas, aonde estão os competidores pelo título ? Carlos Lavado se encontra indignado pois quando crê que irá subir no caminhão que recolhe os três primeiros, percebe que alguém já está lá. De Radigues chega a dois segundos e meio.

Quase sobre a linha de chegada, na saída da antiga chicane Woodcote, perde o terceiro lugar por uma fração de segundo. Seu único pensamento e preocupação é não poder comemorar, depois de uma batalha alucinante. O que não sabe é que as contas do quarto lugar lhe favorecem uma vez que De Radigues é apenas o nono, 2 pontos que deixam em 25 a diferença entre os dois, com o qual a certeza matemática do título fica com Lavado.

Finalmente, após 10 exaustivas corridas, a Equipe Venemotos Yamaha podia saborear outra vez um título mundial depois do obtido em 1975 por Johnny Cecotto na categoria 350 cc. Para Carlos Lavado, que justamente havia se inspirado em Cecotto para tentar igualar-lhe, era o auge de uma década de penúrias, sacrifícios, dores, mas por maiores fossem as adversidades, com uma vontade de vencer acima de tudo ! 


Lavado e Palazzese

Para esse êxito final, colaborou e muito, seu companheiro Palazzese, mas o temperamental Ivan não pôde aproveitar as ocasiões que poderiam ter virado a sorte a seu favor, onde a maior experiência de Carlos no íntimo da Equipe Venemotos se fez sentir. 


Lavado na Suécia, último GP, já como campeão mundial - 3º lugar

Velocidade, regularidade, confiabilidade mecânica e ausência de lesões, foram os fatores que se conjugaram no momento certo para assegurar o título, numa fase do motociclismo onde ainda a mecânica caseira podia fazer diferença. O funcional chassis TZ Yamaha similar ao usado pela totalidade dos pilotos da empresa dos três diapasões e um motor 2 tempos donde se espremiam uns 80 cavalos de potência, foram as ferramentas para consagrar a esquadra venezuelana com base de operações na localidade italiana de Lugo di Romagna.


Carlos Lavado - velocidade e raça !

O segundo de três filhos homens  do capitão Juan Lavado e a senhora Maria , melhor conhecida como "La Nena", voltaria a vencer outro título em 1986, sempre com a escuderia venezuelana Venemotos, mas agora com apoio direto da fábrica Yamaha, combinação que chegou a trazer as cores da tabacaria alemã HB, nova conquista que o firmaria como um dos corredores mais velozes da história das categorias intermediárias, e como afirmavam os cronistas especializados de então, sempre mais veloz que o meio mecânico que dispunha !

Carlos Lavado - Campeão Mundial - 250 

1983   

     Texto: Octávio Estrada - Venezuela
Tradução e Lay-out: Ricardo Pupo


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Comentários:



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Comentário dos Internautas:



UAU ! Realmente sensacional. Acompanhei esse mundial (ainda tenho guardadas as revistas Motoshow) e foi realmente sensacional. Lavado, o rei das freadas pra lá do Deus me livre. Parabéns pela matéria.
Tabajara  A. Jorge
miraassumpcao@terra.com.br  (Terça Feira, 9 de Setembro de 2003, às 12:24:17)


Tive o prazer de ser seu amigo aqui no Brasil e ajudar seu irmao Luis Lavado no GP Goiania e em Sao Paulo realmente um piloto extraordinario onde era verdadeiro em suas decisoes pois quando o equipamento nao estava a altura dos concorrentes chegava para seu fiel preparador o Ferrucci e lhe dizia deixa comigo
 roneyracingg@bol.com.br (Segunda Feira, 22 de Dezembro de 2003, às 20:32:47)


O vi correndo em Interlagos, impresionante na chuva ou no seco igual ao Ceccoto, bons tempos!
Ivan de Jesus
ivandejesus53@bol.com.br  (Quarta Feira, 19 de Maio de 2004, às 01:12:12)


Muchas gracias por vuestra maravillosa web y en especial la pagina dedicada a Carlos Lavado, para mi un gran piloto unico e irrepetible. un saludo desde España, Bernie.
Bernardo Perez
(bpggvbcn@hotmail.com) Quinta Feira, 28 de Outubro de 2004, às 16:33:34


Adorei a matéria estamos a sua procura se possível entre em contato F:55143226-1999.
Marlene Lavado
(malavado@hotmail.com) Sexta Feira, 19 de Novembro de 2004, às 19:04:28


tremendo piloto el PANITA
CARACAS VENEZUELA
cesar lara
(cesar_a_lara@hotmail.com) Sexta Feira, 17 de Fevereiro de 2006, às 17:20:52


Tu pana Felix Masullo; cuando me das unos tips para utilizarlos en el motocross, UN ABRAZO PANA. CARACAS VENEZUELA
Felix Masullo
 (felixmasullo@hotmail.com) Quinta Feira, 16 de Março de 2006, às 09:42:16


GREAT ARTICLE AS EVER.

nome: Dave Montini
(davide_10_71@libero.it) Domingo, 9 de Dezembro de 2007, às 17:28:33


quisiera tener fotos de carlos lavado
cesar lara
 
cesar_a_lara@hotmail.com


lavado corrio en 350 con algun cuadro de Nico Bakker?
email = rolo2t@hotmail.com.ar


CONHECI O CARLOS LAVADO EM INTERLAGOS, EM 1995... ERA PILOTO... PASSEI VERGONHA COMO BR. POIS ESTAVA BRAVISSIMO, VEIO PARA A ABERTURA DO CAMP. BR. NA FAMOSA COPA BR. E FOI UMA MERD., COMO PILOTO EU O VÍ ENSINANDO O PILOT. DA SUA EQUIPE COMO ANDAR EM INTERLAG. UM CIRCUITO SELETISSIMO... O CIRCUIT. ANTIGO... FOI OTIMO ESTAR AO LADO DESTE FENOMENO DO MOTOC. MUNDIAL...
nome = CHITA
email =
SCHICOM2004@BOL.COM.BR                        05/07/2012