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A assombrosa estréia de Carlos Lavado em Mundiais de Motociclismo
- 30 anos -

 

 

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 30 anos atrás, um desconhecido caraquenho, de 21 anos, chegava a San Carlos, para estreiar no Campeonato Mundial, categoria 250 cc. Esse jovem esteve a ponto de retirar-se das competições, porque os resultados não apareciam. 

Mas sua persistência o levariam a conquistar dois título mundiais, com muita garra, conseguindo 19 vitórias nas 250 e 350 cc !


O GP da Venezuela de 1978

Em 19 de março de 1978 se disputava a segunda edição do Grande Prêmio da Venezuela de Motovelocidade. Os ases mundiais das categorias 125, 250, 350 e 500 cilindradas estavam presentes e na categoria de um quarto de litro, um desconhecido piloto local chamado Carlos Lavado ia fazer sua estréia internacional.

Com apenas 4 corridas na temporada de 1977 com uma moto standard com que obteve um terceiro lugar como melhor figuração, Carlos Lavado só foi testar sua moto duas semanas antes do início do Campeonato Mundial de 250. A pista de San Carlos estava preparada, e o mato, que regularmente encobria as curvas do circuito, estava cortado, proporcionando uma visibilidade total.

O traçado da capital de Cojedes, considerado então como um dos mais seguros do planeta, foi construído pela família Rodriguez no começo dos anos 70, e Andréa Ippolito a transformou em 1976, na ocasião das 200 Milhas.

Acompanhado por seu fiel mecânico e amigo Muñoz, melhor conhecido no meio como "Iñaki" ou "El Galego", Carlos Lavado se apresentava com uma Yamaha de 250 cc que havia pertencido ao também piloto Gustavo Laya, outra das promessas do motociclismo local, que uns meses antes havia ido estudar nos Estados Unidos. Era também a primeira vez que Carlos pilotava com pneus novos na frente e atrás !

" Chegamos a San Carlos 15 dias antes de testar a moto - recorda Carlos Lavado - e pela primeira vez montava pneus novos na minha moto, porque até então tinha sempre corrido com pneus usados, emprestados, que inclusive montávamos do aldo contrário. O mato cortado também era algo que não estava acostumado, porque nas provas locais nacionais, íamos como que dentro de um túnel, com mato de lado a lado ! Mas os tempos não saíam. Estava frustrado e pensei em retirarme das corridas. Na última válida de 1977 do Campeonato Venezuelano, Aldo Nanni me colocou uma volta ... isso me impressionou. Desgraçadamente, Aldo faleceu em dezembro em um acidente de trânsito e isso deixou a Venemotos sem seu primeiro piloto para a 250."

Com 21 anos de idade, o caraquenho tinha participado de algumas corridas do certame venezuelano na categoria 350 cc. Em sua última apresentação chegou em terceiro na mesma pista, mas com uma volta a menos que Aldo Nannini, que havia encerrado a temporada do mundial com um fabuloso segundo lugar em Silverstone, pilotando uma Yamaha do time Venemotos na categoria 250 cc.

" Quando começaram os treinos oficiais para o Mundial - prossegue Lavado - decidimos trocar a relação da caixa de câmcio e os tempos baixaram de imediato e soube que podia ser mais competitivo... estava no mesmo segundo que os ponteiros. Usei um macacão que era de "Vampiro" (Gustavo Laya), minha moto tinha rodas raiadas, enquanto as de fábrica já tinham rodas de liga, a carenagem era muito diferente das que tinham as motos oficiais, que eram mais arredondadas e muito aerodinâmicas. Na classificação consegui colocar-me na primeira fila entre Gregg Hansford e Kenny Roberts, eles com seus macacões impecáveis, novos, verde da Kawa e amarelo e preto da Yamaha, e eu com minha moto emprestada e meu macacão já usado ... a pole ficou com Franco Uncini, o italiano que Andrea Ippolito contratou para substituir Aldo Nannini na equipe Venemotos "

Franco Uncini tinha conseguido o melhor tempo, registrando 1'39"40, que superava em mais de um segundo o conseguido por ele mesmo na edição de 1977, quando com a Harley Davidson de fábrica largou à frente do pelotão com 1'40"80. Entre as novidades da iniciante campanha de 1978, além da estreía da nova dupla oficial da Kawasaki, composta pelo sul-africano Kork Ballington e o australiano Gregg Hansford, estava o retorno do norte-americano Kenny Roberts à frente de uma Yamaha oficial. O californiano havia competido em 1974 em Assen, Holanda, onde tinha assinalado a polle position e terminara em terceiro.

A prova venezuelana de 250 cc contava com 30 pilotos na formação de largada, dos quais 21 chegaram ao final. 

Nas suas 28 voltas no traçado de 4135 m, equivalentes a 116 km percorridos, o vencedor foi Kenny Roberts, seguido por Carlos Lavado, pódio que se completou com o francês Patrick Fernandez. Na quarta posição ficou o também francês Oliver Chevallier, enquanto o futuro campeão mundial dessa temporada, Kork Ballington, terminaria em quinto, diante do então campeão, o italiano Mário Lega com uma Morbidelli, e com o alemão Anton Mang em sétimo com uma Kawasaki. A melhor volta da prova ficou também com Kenny Roberts, com tempo de 1'38"50.


Lavado (nº 26) largando. Kenny Roberts é o nº 11

" Na realidade, meu lugar na corrida teria sido o quarto lugar - admite Carlos Lavado - mas Franco Uncini caiu quando estava a frente, enquanto Hansford teve problemas com a moto eqneuanto disputávamos o terceiro lugar... ele me passava nas retas e eu o superava nas frenagens. Roberts estava adiante, uns 15 segundos, mas a gente se impressionou pois eu coloquei mais de 20 segundos sobre o terceiro colocado, o francês Patrick Fernadez. Eu participei com uma moto paraticamente de rua, contra as equipes oficiais de então, e como prêmio recebi algo em torno de 3 lochas e 3 medios " (moedas venezuelanas de baixo valor)


Lavado, a caminho do segundo lugar no GP da Venezuela - 1978

 


O jovem Lavado (no centro) ainda não acreditando na sua performance ! Alegria de sua equipe !

 

 Posição Piloto Moto país tempo
Kenny Roberts Yamaha Estados Unidos 47'15"60
Carlos Lavado Yamaha Venezuela a 14' 80
Patrick Fernández Yamaha França a 37'30"
Oliver Chevallier Yamaha França a 43'10"
Kork Ballington Kawasaki África do Sul a 43'12"
Mário Lega Morbidelli Itália a 54'90"
Anton Mang Kawasaki Alemanha a 1'04"20
Ted Henter  Yamaha Estados Unidos a uma volta
Eduardo Alemán Yamaha Venezuela a uma volta
10º Vic Soussan Yamaha Austrália a uma volta

Impulsionado pelo excelente resultado em sua estréia no mundial - foi o piloto venezuelano melhor colocado entre todas as categorias -, Carlos Lavado embarca na aventura de contiunuar o campeonato em território europeu. 

Entretanto, a realidade lhe demonstraria da maneira mas cruel que não ia ser assim tão simples. Numerosas quedas, ficar fora do grid de largada, quando mais de 70 pilotos buscavam um lugar entre os 36 ou 40 que podiam se classificar, poucas peças para reposição, foram as algumas das penúrias vividas nessa primeira etapa de sua trajetória no Continental Circus, e que o obrigaram a retornar a Caracas antes do tempo.

Entretando, don Andrea Ippolito, o dono da equipe Venemotos, multiplo campeão nacional de velocidade, o criador do fenômeno Johnny Cecotto, já tinha se fixado naquele ousado bigodudo e o contratou como um de seus pilotos para a temporada de 1979. 

Quatro anos depois, em Silverstone, Inglaterra, Carlos Alberto Lavado Jones assegurava seu primeiro título mundial nas 250 cc com a mesma equipe venezuelana, uma alegria que se não pôde compartilhar com seu mentor, foi o melhor reconhecimento a memória do maestro Ippolito (carinhosamente recordado como "el viejo"), que sempre manteve absoluta confiança nas inatas condições do novo campeão mundial !


 

Texto e fotos : Octávio Estrada (Venezuela)
Tradução e Lay-out: Ricardo Pupo
Março / 2008

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Comentários:



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Comentário dos Internautas:


Ótimo, Lavado foi um grande piloto, foi um marco não só no motociclismo venezuelano como também mundial.
Valeu Sr.Lavado

nome: Luiz Filipe Dias Genesi
(luiz_cranicula@hotmail.com) Quarta Feira, 19 de Março de 2008, às 20:07:00


Sensacional. Acompanhei a carreira do venezuelano, que cativou fãs no mundo todo.

nome: Tabajara A.Jorge
(tabajara-tabinha@hotmail.com) Sábado, 22 de Março de 2008, às 16:58:59


El siempre "Pana" Carlos Lavado. Nuestra segunda estrella en el firmamento mundial del motociclismo. Fue un guerrero en las pistas, no se ahorraba absolutamente nada al momento de disputar los primeros lugares en cualquier carrera. Miembro de una raza de motociclistas venezolano que con mas corazon que medios, le dio a nuestro pais dos titulos mundiales. Saludos "Pana" Carlos.

nome: Eduardo Perez
(eduardperez64@hotmail.com) Segunda Feira, 16 de Junho de 2008, às 14:46:31


Show essa façanha conseguida pelo Lavado, realmente andou muito com uma moto pouco competitiva para uma prova do mundial. Pena que o Brasil, tão perto da Venezuela não tenha sido palco de provas nessa epoca e mesmo quando foi, acabou jogando fora o mundial de moto GP que poderia ainda estar acontecendo no Brasil aqui no RJ. Triste fim para o autodromo do RJ e para o mundial de moto GP para nós. Só resta lamentar. Abraço a todos.
nome = Othon Voador Russo
email = othonrusso@yahoo.com.br                                    01/08/2011