Minha CB 200



Como todo adolescente da minha época, meu grande sonho era ter uma moto haja visto que meus amigos tinham suas CB50, RD50 Honda fazendinha, Suzuki 90, Mini Enduro, e eu, só na garupa destes afortunados.

Sendo meu pai radicalmente contra, a ponto de me dizer que se desejasse um filho morto compraria um revolver, resolvi correr atrás do meu sonho.

Arrumei um emprego na loja de som automotivo de um amigo. Depois de muitos TKR cara preta, Pioneer KP500 e amplificadores Cash Box instalados, comprei minha primeira moto. Uma Honda CB200.

Todo orgulhoso fui ao Ibira, no primeiro fim de semana mostrar minha moto depois de muita água e massa Gran Prix.

Lá chegando, fui querer me enturmar com os poderosos proprietários de Sete Galos, GT 750, entre outras.

Maldita hora, foi um sarro só:  isso anda ? essa borracha no tanque é pra apoiar os cotovelos quando ela quebrar? e por ai afora.

Não me fiz de rogado e todo fim de semana eu estava lá, importunando e sendo importunado.

Ouvia as estórias contadas os passeios efetuados e babava. Um certo sabado, tendo parentes morando em Santos, resolvi pegar a estrada, e lá fui eu e minha duzentona pela rodovia dos Imigrantes.

Emparelhei com uma CB125 e fomos conversando ora por mímica ora aos berros quando chegamos ao pedágio e fomos parados por um policial rodoviário.

No mesmo instante escuto atrás de mim o ronco de várias motos grandes também paradas pelo policial.

Formou-se aquela algazarra, um policial e mais de vinte motos sendo vistoriadas. As brincadeiras eram muitas,"xi a carta dele está vencida seu guarda", "esse não tem documento da moto".

Só sei que o policial examinou o mesmo documento no mínimo três vezes, porque um passava para o outro.

Quando chegou a minha vez um gaiato gritou "ele não tem carta", mal sabia ele que era verdade e o policial falou "é, não tem mesmo". Foi quando eu tirei meu capacete e fui reconhecido como o alemão da 200.

Ai, negocia daqui e dali, convenceram o guarda que eu estava com eles e que se ele prendesse minha moto acabaria com o passeio de todos.

Um deles que estava com os documentos vencidos propôs ao guarda uma gratificação de 20 cruzeiros, ou seja lá qual era a moeda na época, da parte dele e da minha.

Indignado o policial gritou que não estava lá de noite naquele frio por meros 20 cruzeiros, teria de ser no mnimo 50. Mais do que depressa enfiei a mão no bolso sacando os ´únicos 50 que eu tinha e lhe dei.

Daí pra frente saímos todos juntos. Eu com a minha CB200 no meio daquelas máquinas incríveis, sonho de consumo de qualquer motoqueiro da época, até atingirmos a interligação com a rodovia Anchieta, dali pra frente eles dobraram os cabos e eu fiquei para trás, lógico.

Depois da CB200 tive várias motos até alcançar o sonho de ter uma Sete Galo.

Hoje possuo uma AJS modelo 20 de 500cc ano 1951, uma Horex Regina 350cc 1951 e uma Czepel de Luxe 250cc 1954.

Mas momentos como aqueles, vividos nos anos setenta, onde um motoqueiro cumprimentava o outro com um leve aceno de cabeça nunca sairá das nossas memórias.

Um grande abraço a todos os motociclistas que visitam este maravilhoso site.

Alexandre R. Michelotto

São Vicente - SP

armichelotto@bol.com.br