MINHA GRANDE CLÁSSICA
Fins de 1997. Tinha 16 anos. Desde muito pequeno gostei de máquinas.
No caso eram os automóveis que me suscitavam suspiros, especialmente os mais antigos.
Mas nesse final de 1997 meu pai adquiriu uma CG 125 novinha. Já na primeira volta aconteceu aquele "clic" que mudou totalmente meus gostos.
Nasceu a paixão por motocicletas.
Meses depois, e alguns exemplares de revistas devorados, estava já cheio de informações sobre motos. Eis que então me deparo com uma beleza que lapidaria ainda mais meu gosto e definiria o modelo de moto que seria o que mais gostaria: uma Suzuki GT 380 preta.
Nunca vira algo tão bem desenhado, tão bem acabada, baixa em relação ao chão, muitos cromados...
Pronto, estava definido. Gostaria de "naked's" e principalmente as dos anos 70.
É certo que o termo "naked" aplicado às motos dos anos 70 é um anacronismo mas, as motos atuais classificadas como naked's são, antes de serem "nuas", motos com cara de motos, como as dos anos 70 eram.
O tempo foi passando, fui encontrando mais modelos de motos clássicas, e atravessando as barreiras que a vida nos impõe. As motos até ficaram um pouco de lado nessa fase que quase todo mundo passa hoje em dia, que é passar no vestibular.
Venci a batalha.
Agora tinha carta e estava mais encaminhado na vida.
O tempo passou novamente e estamos em fins de 2001. Guardara uma grana para comprar minha primeira moto.
Mas tomei uma decepção: não achei nenhuma GT 380 à venda, as "Fours" Honda, mesmo estouradas, estavam caríssimas, e uma RD 350 eu nunca vira.
Mas me deparei com uma CB 400 83 impecável à venda em uma loja de motos da cidade. Meu pai viu e gostou.
Numa Sexta-feira, 21 de Setembro, fui buscar a moto.
Confesso que não era o que eu queria. A CB era grande, bonita e tinha um "quê" de anos 70, mas alguns detalhes não me agradavam.
Os escapes achava horríveis e o som sem personalidade. Os freios fraquíssimos.
Bem, talvez por não tê-la como moto ideal acabei me acidentando.
Um infeliz de carro avançou o PARE. Guidon, tanque e pára-lama amassados. Em mim não aconteceu nada, ainda bem. Fiquei bravo com a moto e quis vendê-la. Mas recuei. Decidi dar uma chance à grandiosa CB. Mas ela não iria sair de graça. Iria dar meu toque especial, deixá-la de meu jeito e esse jeito era uma moto mais baixa do chão, com um ronco mais encorpado, mais esportiva, mais anos 70...
Refiz a pintura personalizando-a, Hollywood, branco pérola, vermelho Ferrari com faixas azuis.
Ficou à lá anos 70. Troquei os escapes originais por um 2 em 1 de alumínio cromado semi abafado.
Ficou um show (tanto no estilo quanto no ronco)! Poli o motor e vários detalhes, até mesmo os carburadores. Repintei de preto esmalte as canelas da suspensão e os manetes de freio e embreagem. Troquei o reservatório do burrinho de freio, as pastilhas, a corrente de transmissão, retirei os mata cachorros (não combinam com o belo escape) e garimpei os espelhos retrovisores originais.
Troquei o óleo da suspensão dianteira e coloquei aquela barra estabilizadora. Na traseira ajustei os amortecedores.
O resultado de tanto trabalho me deixou com um sorriso de orelha à orelha. A CB ficou mais baixa por causa do escape, muito mais bela por causa da pintura.
Agora sim, pensei comigo mesmo! Tenho a moto que sempre sonhei. Passei a usá-la muito mais. Sua estabilidade ficou impecável, os freios bem mais fortes, o motor mais "forçudo" devido ao novo escapamento (com as devidas regulagens em válvulas e carburadores) e, pasmem, mais econômico!
A moto foi me conquistando cada vez que pegava uma estrada, fosse uma ida até Serra Negra, ou um bate e volta até um encontro de carros antigos.
Hoje posso dizer que encontrei minha grande clássica dentro da moto que já tinha.
Estava lá adormecida, triste por não andar muito. Agora andamos muito e já recusei muitas ofertas por ela, inclusive com motos mais antigas no rolo.
Quem já achou a sua grande clássica sabe o que estou falando.
Clássica na nossa vida é só uma, temos de mantê-la e aproveitar essa prazerosa relação pelas estradas afora...
João C.B.
Cosmópolis - SP
joaobottcher@uol.com.br