Minha primeira corrida em interlagos

 

Desde moleque adoro motos e principalmente as de corrida .

Era um piolho de Interlagos, que frequentava o autódromo direto... em semana de corrida ia nos treinos de terça, na sexta e claro sábado e domingo... sonhava em correr, mas nem moto e grana eu tinha.

Vi a primeira corrida na vida em 1980, Copa Brasil e fiquei completamente contagiado pela atmosfera... daí pra minha primeira corrida foram cinco longos anos.

Em outubro de 85, estava eu e a minha possante HONDA ML 125, no box de interlagos....vixe maria ! A moto não tinha quase nada... um tomazelli, um escape "arrombado",  e eu menos ainda ... a jaqueta de couro e o capacete emprestado do meu primo, faltava calça de couro e bota.

Bom, a calça consegui uma de "napa " mesmo, e a bota só tinha uma bico fino das antigas e fui com ela mesmo ... no treino da manhã não acreditava, passava na reta do box e ficava pensando em quantos pilotos já haviam passado por ali, ... vinha uma lista na minha cabeça: Jacaré, Tucano, Denísio, Cecotto, Adú Celso, Netinho e... agora eu !

Olhava de canto de olho pra arquibancada e lembrava dos tempos de fissura ... e, agora estava na pista, era inacreditável ! Tudo isso escondido dos meus pais... pensei - primeiro corro, depois conto, se proibirem já tinha corrido !

A tarde saí pra pista decidido a fazer tempo (vixe maria ) e ...levei um putz tombo no pinheirinho ! Viajei na trajetória toquei a zebra e ...CHÃO ! Rolei pra caramba ... cheguei no box todo ralado do lado esquerdo, braço, perna, joelho ( a calça de napa ), o tornozelo inchadão, mas tranquilo.. tinha que chegar em casa e não dar bandeira.

Mas o lençol caguetou pela manhã. Acordei cedinho no domingo com chuva e sai voando de casa sem dar explicação aos meus pais, medo de criarem problema.

Já no autódromo percebi que o tornozelo estava péssimo, não cabia a bota, não conseguia pisar direito.

Fui pra largada com a calça (de napa ) remendada com silvertape, uma bota de rua mesmo, dessas de passear.

Uma emoção que não cabia em mim, tinha moto de várias cilindradas, era a categoria de estreantes e novatos .

Momentos antes da largada dei uma rápida olhada pra arquibancada e ....inacreditavelmente meus olhos focaram meu pai ....não sei como o velhão descobriu e foi lá  ! Ele se levantou, acenou pra mim, e eu ganhei uma confiança incrível ...larguei como um doido, duas CB 400 se atrapalharam ao dar o tranco e eu passei, cheguei na 2, tinha outra CB e passei por fora... pensei - tá chovendo, o cara tá devagar na curva, mas vai me atropelar no retão ... desci a reta esperando o cara da CB passar lambendo, mas cheguei na 3 e nada da CB, pensei - nossa ! se concentra e vai fundo.

Fechei a primeira volta em quarto, até falaram meu nome no microfone ( o velhão ficou orgulhoso - ele que me contou depois) e fui até que a chuva apertou de vez e eu acabei caindo de novo ... levantei rápido e notei que não tinha mais freio, havia quebrado o manicoto, fui assim mesmo, com a mangueira de freio pendurada, o trazeiro não tinha desde o princípio ( não tive tempo de fazer suporte ,etc ) ... as voltas seguiam até a última quando dei uma olhada pra trás na entrada da reta oposta e vi três motos vindo quase juntas, pensei - vixe, tenho que segurar os caras.

Na freada do Sargento passaram, as duas CB da largada e uma RX carenada. As CB frearam bem na chuva , a RX... foi, foi sambando e deu de frente nas telas, capotando, quando chegou perto do Laranja meus amigos começaram a acenar como loucos, olhei e ... saí como louco pro mato, sem freio, entrei na grama, a moto pulava balançava, eu lá em cima, e como andava muito a pé em Interlagos, sabia que no mato tinha uma canaleta funda pra escoar a água... me preparei passei por ela rápido, sem cair, entrei na pista de novo e passei a bandeirada em oitavo ... foi lindo ! Nunca mais esqueço !

Tenho a classificação gurdada em casa até hoje ... a primeira ninguém esquece !

Era um sonho se realizando !

Depois andei no Paulista e fui melhorando. Pra você, que quer um dia correr, e não tem condição, gostaria de dizer para jamais desistir, lute pelo seu sonho mesmo que ele pareça estar muito longe, tenha amor pelo esporte, confie em você e tenha fé, que um dia estará também nas pistas !

abraços a todos,

Paulo H. Boassaly
Piracicaba - SP
paulohboas@hotmail.com