MOTO MINHA PAIXÃO
Tudo começou aqui na minha cidade de Ribeirão Preto/SP, por volta do ano de 1976, quando meu pai presenteou a mim e ao meu irmão Marcelo, com um ciclomotor Garelli Katia , de 50 cc (uma insanidade, visto que naquela época eu tinha apenas modestos 06 (seis) anos e meu irmão, com modestíssimos, 9 (nove) anos .
Era linda para a época, pára-lamas cromados, e a incrível cor LARANJA !!!
Veja na foto abaixo, uma foto minha tirada em 1.979, em cima de minha mini-clássica, com ‘experientes’ 09 anos de vida e três de asfalto :
Garelli, um show, já que na época o máximo que tinha para a molecada era a Mobylette, Puch e/ou Torkita .
Os anos se passaram, e ate que ela durou muito na mão de dois pirralhos, e simplesmente a Garelli fundiu totalmente em 1.983, pistao e anéis tornaram-se uma peça só...uma beleza!!!
Sem grana e sem apoio dos nossos pais e de ninguém, para poder retificar a Garelinha, meu irmão desencanou dela e partiu para os estudos, provas, Fuvest, e hoje mora em São Paulo, onde se tornou projetista mecânico . Ele curte motos, mas sei que sua paixão são os carros .
Mas eu....eu fiquei viciado em duas rodas...ate que no final de 1.984, ganhei uma CG-125, ano 81, vermelha...Meu Deus!!! Era tudo de bom...bem na época da musica ‘Vital e sua moto’ do Paralamas do Sucesso, eu era o próprio Vital, pois vivia feliz em cima da minha CG .
Como era de praxe, ela veio toda ‘cabaço", e logo fui modificando-a, infelizmente não tenho nenhuma foto dela como veio ao mundo, mas só pra ficar anotado, ela veio com dois imensos espelhos retrovisores cromados (originais), bagageiro (conhecido como churrasqueira), o inútil mata-cachorro, etc...
Como eu era boy (14 para 15 anos de idade), arranquei tudo, e em alguns meses ela ficou "da hora", rodas de magnésio pintada de branco (pra quem se lembra daquela época -ano de 1.984- era o máximo ter rodas de ‘magna’ brancas, verdes, jateadas, polidas em suas faces externas,...), tirei o filtro de ar, coloquei o escapamento da Turuna/79 (famoso estralador), cachimbo vermelho da XL-250, manoplas com cheiro de tutti-frutti, barra estabilizadora (como se ela precisasse)....ERA O BICHO!!!Vejam as fotos da minha CG, que durante 03 (três) anos, a única coisa que eu não fiz com ela, foi subir em cima de arvores:
Era um mundo que achava que nunca iria acabar, minha felicidade se resumia em gasolina, óleo, pneu, acessórios maneros, rebaixamento de cabeçotes, velocidade, fazer curvas raspando a pedaleiras no asfalto, empinar, enfim, tudo que se resumia em motos...motos...e mais motos .
Rachas fantásticos na Mabel aos Sábados a noite, que era uma reta fabulosa de + ou – 4 quilômetros na Avenida Castelo Branco, com um leve declive para quem vinha da estrada Anhanguera, sentido avenida Treze de Maio, o pessoal (inclusive eu), já deitava de "foguetinho" nas motos logo em primeira marcha, e acelerava tudo...entortava o cabo...
Era ‘as vezes misturadas as motos na largada; quatro tempos com dois tempos, CGs, Turunas, MLs, RD-Zs, RD-Zs II, RXs, RSs, vi muita dois tempos, inclusive as foguetes da época RD-Z, tomar pau de CG e ML.
Eu modestamente, deixei muita RX, RS e RD-Z pra trás, elas saiam na frente, mas minha CG "brava", ia buscar e passar, pois naquela época minha CG estava com embreagem calçada, cabeçote rebaixado 1 mm, pistao 1 mm, válvulas calçadas, venturi do carburador passado no torno (impossível era acertar marcha lenta da bichinha), e uma relação de quase atropelar as válvulas em 4 marcha, eu usava 17/35, super longa...
Encarava também motos off-road de alguns amigos meus, como na foto abaixo, estou com um DT-N 180 de um amigo :
Enfim, com tantas loucuras realizadas aqui nas ruas de Ribeirão Preto, nessa mesma época eu trabalhava na oficina de motos do Celso Zuffo (o Pipoca), onde um de nossos clientes era Gerente da Tapeçaria Chic, (Seu Ribeiro), gostou das barbaridades que eu fazia com meus amigos, que resolveu financiar duas corridas que aconteceram no Cartodromo daqui de Ribeirão Preto, em outubro e novembro de 1.987, que se chamavam 1ª e 2ª Copa Motopeça de Velocidade .
Ate que não fomos mal, pois no meio de 20 a 25 pilotos em um traçado extremamente "travado", na primeira corrida larguei em 5º e cheguei em 5º, e na segunda corrida, larguei em 6º e cheguei em 4º .
Vejam algumas fotos das corridas, e o que virou daquela CG "cabaço" que ganhei 3 antes:
Primeira corrida, grande publico !!!
Largada tipo "Le Mans", e reparem que havia inclusive um cinegrafista, que não sei quem era e nunca vi o filme (1ª corrida – sou o nº 2)
Fotos da 2ª corrida, já com o nº25
(obs.: os nºs eram sorteados aleatoriamente e o branco na pista era "somente" um recapeamento do asfalto da "pista", feito com "cimento", não derrapava nada, nada..rs )
Para se ter uma idéia do que eu e o Celso Zuffo, aprontamos nessas corridas, na segunda foto (onde aparece o rapaz de macacão vermelho), esta moto com rodas de magnésio azul, era uma moto oficial da concessionária Honda daqui de Rib.Preto (Motoasa), que infelizmente me ultrapassou nas ultimas voltas e chegou em terceiro lugar .
Esta é uma grande recordação daquela época, pois estão na foto, eu, ao final da segunda corrida, meu irmão Marcelo (a minha direita de camisa branca), o Celso Zuffo (de camisa azul), conversando com o Zuffo, o Devair (da DEMOTO), e vários amigos meus, Xande, Gustavo(Gogó), Tuxê, Cara de Cavalo, Neguim, etc...
Naquela época, eu tinha outra moto, uma CB-400 II / 83, que dispensava comentários entre a moçada, vejam a babem (a foto esta meio tremida mas reparem o escape Sarachu e as tampas cromadas, LINDA!)
(detalhe, não quis tirar esta foto, pois minha CB estava "suja")
Esta foto me traz muita alegria; foi tirada em frente a oficina do Celso aqui na Avenida Portugal, por volta das 19:00 Hs (notem que o pneu esta bem em cima da faixa de divisão da pista e tinha acabado de colocar 3ª marcha, levantava a moto em 1ª, batia segunda, e quando dava jogava terceira )
Esta minha CB, igualmente era o bicho, um verdadeiro foguete, quando meu amigo Rogério me acompanhava, ela subia a frente que parecia uma XL .
Com ela nos rachas da Mabel, algumas vezes sai junto com RD-350, assumo que quem as pilotavam eram uns verdadeiros "braços" , mas eu disse que saia junto, com as viuvas que sobem de giro de forma brutal .
Não sei o que esta moto tinha, pois andava muito, tinha uma estabilidade que parecia que eu andava sobre trilhos, quando fazia curvas, raspava tudo, inclusive o pedal do freio traseiro...pois como não tinha muita coisa na cabeça, eu a rebaixei 10 cm na frente, soltando as mesas, inclinando sua frente para "entrar" melhor nas curvas .
Enfim, tudo isso acabou no Domingo do dia 17.01 de 1.988 as 16:00 Hs, bati na traseira de um Voyage parado, quebrei meu cotovelo direito, coloquei uma prótese, mas estou sem nenhuma seqüela (Graças a Deus!) .Quem viu, pensou que eu tinha morrido, pois na batida, eu passei por cima, e a moto entrou por baixo e foi parar debaixo do assoalho do carro, bem no meio.
Bati a cabeça (capacete??? não sabia o que era isso), em uma arvore, fiquei meio grogue uns dias e meu irmão me deu uma baita força, pra me recuperar . Obrigado Marcelo!!!
Eu iria pra São Paulo, fazer uma prova para receber a carteira de PC (Piloto de Competição), e batalhar patrocínios melhores, pois a Tapeçaria Chic daqui de Rib. Preto, poderia me ajudar, mas enfim...quem mandou achar que rua e pista de corrida não tem diferenças .
Pra não esquecer que desgraça pouca é bobagem, naquele ano (1.988) peguei tiro de guerra, servi o ano inteiro, pra vcs verem que não tive nenhuma seqüela deste acidente .
Bom, teria mais fotos das corridas, que meu irmão tirou, mas eu com minha ansiedade mórbida, abri a maquina sem rebobinar o filme e queimou tudo. QUE REMORÇO!!!
Tenho que deixar registrado aqui os nomes vários amigos e colegas de rachas e bagunças, que para quem nasceu aqui em Ribeirão Preto ou viveu aqui por volta dos anos de 1.980 a 1.988, certamente irão relembrar, são eles : Cabeça (dos escapamentos), Camisola, Arnaldinho, Pinoquio, Ramses, Castor, Nardao, Tim, Mamão, Duda, Melão, Zito, Mauricinho da Santa Cruz, Márcio Z, Batata, Tim (Santa Cruz), Etinho, Vital (Cu de Pato), Fanta, Lobao, Reginaldo, Rogério Boquinha, os irmãos Calura, Celsao (Iogui), Ricardinho (que trabalhava na oficina do Carlinhos Mobylette), Rogério (que andou em minha garupa por vários anos) entre outros que peço desculpas por não lembrado, por não mais encontrar ou porque já morreram em acidentes .
Desta forma, desejo que todos tenham consciência da importância dos acessórios de segurança de dirijam igualmente com ela. Celso Zuffo, por incrível que pareça, pois estava acostumado a andar em varias clássicas, altas velocidades, tinha inclusive uma reluzente RD-350-1.973 azul, com 95% de peças originais, morreu em 1.992, andando de Mobylette .
Espero que com minha historia, aqueles que lerem, verifiquem e observem que nem sempre a sorte pode estar com vc, no meu caso ela estava ao meu lado, mas lembrem-se sempre....sempre se preocupem com segurança. Capacetes, luvas, macacões, botas, devem fazer parte do dia-dia de todo e qualquer motoqueiro ou motociclista .
Hoje estou sem moto, desde meu acidente em janeiro de 1.988, mas espero recomeçar em breve meu destino que ´´e andar de moto, hoje com segurança e respeito, pois estou em um consorcio de uma Tornado/250, e assim reiniciar minhas voltas e viagens com uma de minha antigas paixões ....MOTO!!! E visitar mais meu irmão em São Paulo.
Um grande abraço a todos!
Ribeirão Preto/SP, 05 de março de 2.003 .
Ricardo Pires