PERSONALIDADES

José Antonio Vivas Ortiz

"El Negro" Vivas !

O primeiro grande ídolo do motociclismo venezuelano !

 

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Como todos os artigos relacionados com o passado, e a história do esporte a motor, quem redige sente uma profunda admiração e respeito pelo valor e entrega daqueles pioneiros que, como no caso do "El Negro" Vivas, deram inclusive sua vida pelo esporte que tanto amavam.

O pior é ter que resumir em umas poucas linhas, alguns dos feitos mais destacados, mas faremos uma tentativa.

Um agradecimento muito especial para seu filho, José Antonio Vivas, que gentilmente cedeu as imagens e crônicas acerca da trajetória de seu pai.

Quando se revisa as notícias da imprensa da época, pode-se entender a imensa popularidade deste motociclista que cativou não só os fãs nacionais, como também fez delirar o público de Lima, nas corridas internacionais realizadas no Perú, nos anos 50.

Vivas, inclusive, esteve a um passo de estrear nos mundiais de velocidade, nada mais nada menos que no Tourit Trophy da Ilha de Man, mas uma apendicite o obrigou a ficar em Caracas e perder essa oportunidade que havia sido negociada por Julio Cesar Léon - o primeiro atleta olímpico venezuelano - então presidente da Federação Venezuelana de Motocicliismo, e importador da fábrica britânica AJS.

Vivas, era um dos cinco esportistas mais famosos de seu tempo !

... Vivas faleceu às 3 da madrugada de 21 de julho de 1958, vítima de um acidente em treino da corrida no dia anterior ...

Bem poderia, como reconhecimento de sua mítica trajetória, e mesmo que tenha-se passado meio século de sua passagem, que alguma rua ou bairro de Pinto Salinas pudesse levar seu nome ...

Octávio Estrada


MEIO SÉCULO DO ACIDENTE QUE ACABOU COM SUA VIDA ...

Numa clara manhã de 20 de julho de 1958, domingo, aconteciam os treinos da categoria de 50 cilindradas, nas amplas vias da avenida Los Póceres, de Caracas, para a quinta etapa do Campeonato Nacional de Motociclismo. Seria a primeira corrida da temporada que iria ser realizada na capital, depois das etapas de Valencia, Maracay, Maiquetía e Barquisimeto, o que imediatamente chamou a atenção dos aficcionados e especialistas caraquenhos.

Se antecipava um fabuloso duelo entre figuras como Pedro José Betancourt, Ferrucio Dalle Fusine, Lambert Danzer, Andrea Ippolito (o pai do atual presidente da Federação Internacional de Motociclismo, Vito Ippolito), Eduardo Ruiz Gabaldón e Guillermo Maas, entre outros, mas o público tinha especial predileção por José Antonio Vivas, popularmente conhecido como "El Negro", o mais valente, admirado, polêmico e arrojado piloto de sua geração.

Mas desgraçadamente, durante os treinos livres, antes do oficial, "El Negro" Vivas sofreria uma queda espetacular ... foi projetado de sua BSA, indo golpear um dos objetos de bronze que delimitavam a calçada. De imediato ficou evidente a gravidade do acidente: Na perna esquerda o piloto apresentava múltiplas lesões e fraturas e foi transportado com urgência ao hospital de Coche, onde apesar dos esforços dos médicos, se viram obrigados a tomar a terrível decisão de amputar a perna ferida.

Todavia, na madrugada de segunda feira, José Antonio Vivas deixaria de existir, ao acontecer uma complicação que não pôde superar ...

Aos seus 26 anos de idade, José Antonio Vivas era um verdadeiro ídolo entre a juventude venezuelana, durante a década de 50, condição inclusive que o colocava, com merecimento, nessa elite de ser um dos cinco desportistas mais populares de seu tempo, equiparando-se junto aos melhores beisebolistas, boxeadores, e representantes das touradas, que então monopolizavam as manchetes da imprensa desportiva nacional.

De silhueta delgada, amplo sorriso, e identificado (também pela sua pele morena), por um fino bigode, a paixão de Vivas pelo motociclismo foi contra a vontade de sua mãe, que se opunha à desmesurada fixação que seu único filho homem tinha pela velocidade. 

José Antonio, que começou como distribuidor da empresa italiana Lambretta, foi pioneiro das primeiras provas de motociclismo que se realizaram no país a partir de 1950, impulsionadas pela recém fundada Federação Venezuelana de Motociclismo, presidida por Jesus Reina Morales.

José Antonio Vivas Ortiz, nascido em 1932, na paróquia El Recreo, de imediato ganhou o apreço e respeito de seus adversários, admirados por seu estilo arrojado e comportamento espontâneo, rivais que em sua maioria provinham da Europa, os mesmos que encontraram na Venezuela um país de infinitas possibilidades, nação que abrigou centenas de milhares de imigrantes que buscavam um futuro melhor que as penúrias e necessidades que deixou a II Guerra Mundial.


ÍDOLO DENTRO E FORA DA VENEZUELA

Os êxitos de José Antonio "El Negro" Vivas em terras estrangeiras ficaram marcados na categoria de lendários ou antológicos, o que acrescentou a sua renomada fama, que combinava com uma sensibilidade e humildade extrema. 

O numeral 5 sempre o identificou, ainda que, paradoxalmente, no dia de seu acidente mortal, usava a placa 66.

Em 1953 viajou pela primeira vez a Lima, mas uma falha mecânica em sua máquina o impediu de terminar a corrida, mas no ano seguinte, Vivas encantou os peruanos e aos mais renomados especialistas da sul-americanos, por abaixar nada menos que 17 segundos o recorde da volta no traçado "La Herradura", localizado em pelno litoral limenho. O rústico circuito de uns 6 quilometros, discorria sobre vários tipos de superfície e dos 4'08" estabelecidos, o venezuelano pulverizou sucessivamente as marcas até deixá-la em um ínfimo 3'51", feito que enlouqueceu os aficcionados ! Uns dias depois, "El Águia Negra", como lhe batizaram os cronistas do Pacífico, se impôs no "Campo de Marte", e isso o projetou a níveis de popularidade impensados !


O estilo arrojado do piloto da AJS nº 5 !

Em duas oportunidades Vivas conquistou o título nacional da categoria máxima de 500 cilindradas, e em outra ocasião na de 350 cc, mas também sua exagerada veemência muitas vezes fazia estragos na mecânica, o que se traduzia em numerosos abandonos. Em 1955 repetiu as conquistas, que ratificaram sua condição de herói em Lima, apoderando-se do que então se conhecia como Campeonato Sul-Americano, onde se enfrentavam os melhores expoentes da Argentina, Chile, Colombia, Uruguai e o anfitrião, Perú.


Bi-Campeão Sul-Americano, 1954 e 1955.

Amigo de figuras como o narrador esportivo e corredor de automobilismo Pancho Pepe Cróquer, José Antonio Vivas foi morara com sua família na cidade de Simón Rodriguez, próxima a estação de teleférico de Caracas. Ali tiveram dois filhos, Xiomara Josefina e José Antonio.

Na temporada de 1956, "El Negro" Vivas estava a ponto de cumprir um dos seus maiores anseios, que era viajar para a Europa para enfrentar-se com os melhores do mundo. A meta era a Ilha de Man, no Reino Unido, o mítico cenário de mais de 60 km de pista onde é disputado o Tourist Trophy, primeira etapa do Campeonato Mundial de Motociclismo. Quiz a sorte e o destino que no último momento Vivas tivesse que desistir de viajar ao ser internado de emergência por apendicite, o que cancelou toda a operação que havia promovido Julio Cesar Léon, presidente da FMV, e representante da casa britânica AJS. Foi necessário esperar a té 1975, quando outro jovem caraquenho, chamado Johnny Cecotto, estremeceria os cimentos do motociclismo mundial com uma espetacular estréia em Paul Ricard, França.

A trajetória esportiva de Vivas também esteve marcada por não poucas situações conflitivas que incluiram várias suspensões e sanções, mas jamais por atos anti-esportivos, nem excessos de algum tipo fora das pistas, e sim por exigir seus direitos como atleta, feitos que o levaram a manter ásperas discussões com os dirigentes de então. Ao final de 1956, Vivas inclusive chegou a anunciar sua retirada do esporte, mas o chamado da velocidade sempre pôde mais que qualquer discussão, porque como afirmou em uma infinidade de entrevistas, o motociclismo era sua vida.


Na sua última corrida, em Barquisimeto, El Negro (nº 66) toma a dianteira, juntamente com Andrea Ippolito (nº 12).

A meio século de seu desaparecimento, o legado de José Antonio "El Negro" Vivas permanece vivo, porque seu estilo e valentia serviram de exemplo a centenas de jovens que continuaram seu legado, tradição e talento dos motociclistas venezuelanos que duas décadas depois seriam repercutidas nas pistas de todo o planeta, graças ao aparecimento de Johnny Cecotto e Carlos Lavado, os primeiros e únicos campeões mundias de motociclismo provenientes da América Latina.

VIVA "EL NEGRO" !!

 

Texto: Octávio Estrada
Tradução: Ricardo Pupo
Julho / 2008

 

 

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Comentários dos internautas


PARABÉNS PELA MATÉRIA. O RESGATE DA MEMÓRIA DE UM PILOTO FANTÁSTICO E DESCONHECIDO PELA MAIORIA DOS AFICCIONADOS PELO MOTOICLISMO É DIGNO DE NOTA. NOVAMENTE, .... PARABÉNS!

nome: "guy" nishida
(guy@dse.ufpb.br) Sexta Feira, 25 de Julho de 2008, às 16:38:54


E bota fundo do baú nisso! Parabéns!

nome: Tabajara Aparecido Jorge
(tabajara-tabinha@hotmail.com) Sábado, 26 de Julho de 2008, às 10:45:01


Parabéns ao escritor por mais esta matéria e pesquisa. Saber de brilhantes feitos, como o que consta da narrativa, é o mínimo que nós de hoje, devemos fazer em reverênda a valentes deste porte.

nome: Vinícius Caires
Domingo, 3 de Agosto de 2008, às 17:52:45


PARABENS POR LEMBRAR DE DE PILOTOS QUE FIZERAM ESTORIA. TEM QUE FICAR NA LEMBRANÇA DE QUEM GOSTA DO MOTOCICLISMO PARABENS
nome = CLAUDEMIR DESTEFANO BOMBARDA
email =
bombarda@fcfar.unesp.br


Mais de 50 anos antes de Lewis Hamilton ser o primeiro negro a fazer história no automobilismo mundial, "El Negro" buscava o mesmo no motociclismo mundial e tinha potencial de sobra pra isso, como demontram os registros daquela época, reforçado pelo fato dele ter se disposto a correr no Tourist Trophy da Ilha de Man, a prova mais difícil e mortífera da motovelocidade, enorme e inédito desafio para um sul-americano naqueles tempos. Sua carreira se parece com a de nosso Carlos Alberto Pavan, o Jacaré. Ambos foram ases prematuramente interrompidos.
nome = Renato Faganello
email = renato.faganello@gmail.com