"O BESOURO CEGO"

 

Parece até aquelas velhas piadas que ouvimos constantemente, mas é sério.

Em 1982, um Capitão do PARA-SAR (Esquadrão de Resgate da Tropa de Elite da Aeronáutica) comprou uma CB 400 "zerinha", deixando os colegas da Unidade Militar "babando" pela sua nova máquina.

Poucos dias após estrear a possante, o Capitão viajou a serviço e deixou a moto estacionada no Quartel.

A chave da CB ficou guardada na Sala de Permanência dos Militares de Serviço, o que era comum para os viajantes.

Sabe como são essas coisas né. Tremenda sexta-feira, a CBzona alí parada..., a chave ao alcance..., Soldado acordado lá pelas duas horas da madruga esperando algum eventual acionamento do Alerta-Sar, enquanto lá fora, os amigos curtiam a noitada.

Logo surge uma idéia: Ele (Soldado) - também filho de Deus - estava sequinho para tirar uma onda de CB 400 e ser visto pelos colegas e principalmente, pelas meninas no bairro onde morava.

Logo veio a idéia: Será que ele conseguiria sair na Guarda do Quartel? Claro que sim. Àquela hora, na moto do Capitão e de farda de instrução (que dificulta a identificação da patente) e capacete. Quem iria imaginar ser ele e não o Oficial que alí estivesse passando?

E lá foi ele...

Pouco após às 3:00 h um Tenente da PM telefonou para o Oficial-de-Dia da Base Aérea, solicitando que uma viatura da FAB fosse buscar os destroços da CB 400 e informando que o militar passava bem e estava sendo medicado num Hospital Público da região.

Eu fazia parte da equipe designada para trazer a sucata da moto e escoltar o Soldado até o Hospital Militar, de onde foi logo liberado para ser recolhido a prisão, tão logo o gesso de um braço e uma perna secasse (naquele tempo não tinha refresco. Mesmo quebrado iria para o xadrez). Os outros ferimentos não necessitavam de maiores cuidados.

Durante todo o percurso da volta do hospital até a Base, diante dos risos e gozações do colegas, o pracinha lamentava-se de um único erro: Tudo teria dado certo se na volta para a Base ele não tivesse tido a infeliz idéia de "sacanear" o motoqueiro que vinha em sentido contrário.

O imaginado motoqueiro, era na realidade um velho fusca utilizado para transportar frutas para a feira.

O "besouro" (o qual encontramos todo arrebentado junto a moto) estava com um farol só.

NOTA: Os nomes do Capitão e do Soldado foram omitidos, já que não tenho autorização dos mesmos para divulgá-los.

O oficial (então capitão) foi para a reserva há muito tempo e não tenho contato com ele.

O Soldado, pouco depois do episódio e, de ter cometido outras transgressões ao reguamento disciplinar, foi licenciado da FAB.

DEUSDET (DAVI) B. OLIVEIRA
deusdete_davi@hotmail.com
Belford Roxo - Rio de Janeiro