Motos Clássicas 70
Passo-a-Passo

HONDA
CB 400 

1983

Pequena restauração

por: João C. B.



 
22/05/2007

Depois de participar do evento de motos clássicas em Poços de Caldas, e de ver tão belas máquinas lá expostas, senti-me incentivado a melhorar esta minha CB 400 1983 prata.

Adquiri esta moto meio que por acaso, há 4 anos. Estava em bom estado geral, mas eu procurava uma moto maior. Na falta de boas opções, e como esta moto tinha aparecido, decidi compra-la. Como eu tenho outra CB, uma 1980 cujo chassis indica ser da primeira centena montada no Brasil (toda japonesa) e em perfeito estado de conservação, esta CB 83 acabou ficando como moto de uso diário, moto “pra bater”, como dizem por aí.

Os primeiros 2 anos comigo foram moles pra moto, mas depois disso iniciei o uso em estradas, pois trabalho em Campinas, andando em média 60 km diários. Nessa, uma série de probleminhas foram aparecendo, embora a moto jamais quebrou ou esboçou qualquer mania esquisita.

O primeiro item que apareceu foi um vazamento pequeno na região central do cilindro. Como eu não estava com muita paciência, só repunha o óleo perdido e lavava a sujeira do motor e assim foi indo... Depois, coisa de 3 meses atrás, apareceu um vazamento no burrinho de freio, principalmente quando andava na estrada, mas também não liguei muito. Outras coisas que “tive” de fazer foram a troca da câmara equalizadora do escape, o pneu traseiro, a bateria e a relação completa, aproveitando para colocar corrente com anéis o’ring, mais durável e silenciosa.

Abaixo a foto da moto, depois do passeio de 350 km até Poços.

Decidi então resolver todos os probleminhas da CB, deixa-la perfeita de mecânica, ciclística e elétrica, já que a estética está boa, embora a pintura tenha riscos e defeitos, mas será a última coisa que farei, pois pretendo personaliza-la a fim de parecer uma CB 750 F 1980, com aquela faixa degradê na lateral do tanque. Uma personalização de época, portanto.

Aqui dá pra ver o vazamento. É o chamado “prisioneiro” do motor. São 4 parafusos centrais e mais quatro nas laterais do cilindro. O que vaza são os 2 parafusos centrais à direita da corrente de comando. Nisso o óleo escorre para a lateral direita, dá pra ver na foto o motor lambuzado.

Vejam a quantidade de óleo que escorreu... Não sei se alguém viu isso em Poços, mas se alguém viu saiba que fiquei com vergonha. Ao mesmo tempo fiquei orgulhoso, pois a moto vai e volta pra onde eu quiser e não quebra, além de gastar pouco. Nos 350 km do passeio até Poços a média de consumo foi de 23,4 Km/l, com média horária de 100 Km/h.

Esta foto abaixo mostra bem outros 2 pepinos da moto. O “mata-cachorro” está ralado e enferrujado, principalmente na união deste com o bloco. Atrás vê-se a lateral direita cuja “faixinha” foi delicadamente arrancada pela minha bota de zíper lateral...

Bom, antes de mexer é providencial uma boa lavada geral. Nem aparece muito, mas há muita sujeira.

Agora sim. O motor consumiu meio frasco de detergente pra tirar todo o óleo. O resto foi na roda traseira, muito suja do óleo da corrente que respinga. Depois de tudo limpo o aspecto é ótimo, a moto está muito boa. Dá pra ver o quadro e a elétrica em perfeito estado.

Então vamos mexer! Com a tampa do cabeçote fora, vemos todo o esquema superior do cabeçote, com as famosas 3 válvulas por cilindro. As duas setas indicam os 2 encrenqueiros causadores da sujeira toda!! O dianteiro está até branco de ver o tamanho da chave de boca que se dirige pra ele...

Abaixo eu tentei mostrar a base do parafuso. Não sei porque o motor da CB é assim. É mais um ponto pra dar vazamento... O parafuso tem uma espécie de anel de borracha na base da rosca. É ele quem deveria conter o óleo do cárter, mas...

Abaixo os parafusos já fora. O motor até que está limpo por dentro,  tudo é original.

Eis a dupla! À esquerda os novos, à direita os que estavam no motor e as setas indicando as borrachas vedadoras já ferradas.

Depois foi só colocar os parafusos novos, com a devida cola vedadora, e apertar no torque certo. Deixei a moto funcionar por 15 minutos, para secar bem a cola. Depois andei com a moto na cidade e um pouco na estrada, procurando “puxar” um pouco, forçando o motor. Depois chequei se o vazamento persistia. Nada !!! Beleza, um problema que se arrasta por 2 anos foi resolvido. Vocês nem sabem como respirei aliviado.

Abaixo o motor depois do teste, sequinho sequinho!! E também aproveitei para retirar o “mata-cachorro” velho. Gostei da moto sem ele, dá um ar de mais originalidade ainda. Vai ficar assim !

No dia seguinte decidi mexer no burrinho de freio. Uma caca! Tinha muita borra e uma espécie de cola amarela. Descobri também porque vazava só quando eu pegava estrada. O freio tinha sido “sangrado” errado! A pastilha (que ainda é original Honda) ficava encostando de leve no disco. Isso fazia o sistema ferver e, por conseguinte, fazia o fluído ferver e tentar sair por algum lugar... E esse lugar era no alto, na caixa plástica do burrinho.

Fiz uma criteriosa limpeza, drenei todo o fluído velho, lavei tudo. Depois montei de novo, com uma caixa do burrinho nova. Não vazou em nenhum momento. Fiz outra volta na estrada e tudo parece estar certo. Adeus jaqueta respingada de óleo de freio...

A moto tinha ainda lâmpadas queimadas. A do velocímetro, a lanterna, luz de óleo e a dos piscas estabilizados dianteiros. Gosto dos piscas estabilizados, era moda nos anos 80 entre a CBzada. Acontece que os pólos dos piscas ficaram bons, enquanto os que se ligam junto à lanterna queimaram. Ao trocar as lâmpadas vi que a ligação da estabilização dos piscas estava mal feita. Refiz tomando o devido cuidado de isolar fios  e “limpar” o esquema elétrico, pois dentro do farol tem umas presilhas para prender os conectores e nada estava correto. Parecia que tudo tinha sido jogado lá dentro e boa!

Abaixo a frente da moto com tudo funcionando!! E as setas estabilizadas. Fica ou não fica bom ???

Próximos itens:

 - vou procurar os espelhos originais Metagal-Honda
- polir o motor e afins
- procurar a lanterna traseira original (até 1981 era Stanley japonesa, depois disso era Rossi-Honda, é dessa que preciso)
- preciso urgente limpar a carburação, a moto está com a baixa ruim e reluta um pouco em passar da média para alta

- tenho que dar uma geral na câmara equalizadora do escape. A original furou toda e comprei uma usada (é dificílimo de achar, e vocês acham que só quem tem Four é que se ferra...). Claro que já veio com alguma ferrugem externa, além de estar amassada. Vou desmontar tudo, lixar toda a ferrugem e pintar com tinta preta alta temperatura. 

Abaixo tomo a liberdade de mostrar uma foto de uma 750F 80 que estava em Poços e que tem o esquema de pintura que pretendo fazer na minha CB. Olha só o degradê da faixa! Não se fazem mais motos como antigamente...


24/05/2007

Hoje mexi na carburação. Como tinha lavado bem a moto isso ajudou muito! Recomendo lavar bem antes de fuçar. Uma dica: para tirar a dupla de carburadores sem estressar, retire primeiro as tampas do topo dos carburadores, onde se processa o vácuo para levantar os pistonetes. Uma chave de fenda comprida e fina resolve. Daí é fácil ter acesso para soltar cabos de controle e tirar a carburação.

Na foto abaixo o motor sem os carburadores e já com a tampa polida. Fica ótimo! Ainda não tomei coragem de polir a tampa do cabeçote. Os coletores de admissão também estão “cansados”. Mas são originais e resistem bem. Vou usá-los, mas vou procurar dois coletores novos.

Como a carburação foi toda desmontada, aproveitei para polir as cubas e a tampa dos pistonetes.

Com isso, ao instalar tudo na moto o aspecto melhora muito. Aproveitei e encerei o quadro, poli a tampa do motor direita e os suportes de alumínio da pedaleiras do garupa. Está ficando bonito!!

Acima o conjunto todo montado. Bom, hein?! Ainda não poli a tampa do cabeçote. O próximo item a ser trabalhado dá para ver nesta foto: a dita cuja câmara equalizadora do escape... Está enferrujada e meu medo é que ela fure, embora pareça estar firme e forte. Pretendo trocar também os parafusos que seguram o escapamento ao cilindro, bem visíveis na foto. Estão enferrujados e dão má impressão. Tentarei achar de inox.


25/05/2007

Fiz  uma busca rápida numa espécie de “desmanche de motos” da cidade. Na verdade é uma oficina “boca de porco” cujo dono se especializou em comprar motos de leilão e vender as peças. Às vezes ele vende motos inteiras, pra moçada que quer fazer zoeira, tipo empinar, zerinhos e tal. A maioria é CG, RD 135 e DT 180, mas tem algumas CB 400 e 450 e tinha até uma XT 600 desmontando.

Encontrei: um espelho Metagal-Honda original lado direito (o vidro está ruim), lanterna traseira Rossi-Honda em ótimo estado e uma torneira de combustível original Kei Him.

O espelho terá de esperar seu par, a torneira está muito suja e na minha moto está uma outra, de desenho idêntico, mas que se lê apenas “made in U.S.A.” , sem marca aparente. Como funciona bem, não pretendo remove-la já.

Já a lanterna foi devidamente encerada e coloquei na moto. O estranho é que o fundo é original, inclusive a lâmpada “Stanley”. Acho que algum dono anterior quebrou a lente original e colocou uma paralela. Agora todo o conjunto está novamente original, como se vê na foto abaixo.

O próximo item é trabalhar na câmara equalizadora e pretendo fazer um orçamento das tintas para pintar a moto. Aguardem!



26/06/2007

 

 

Dois anos após a compra desta moto a câmara equalizadora do escapamento furou. Era a original ainda, jamais tinha sido sequer mexida. Mas, infelizmente a folha de aço ficou finíssima e furou em vários pontos, inviabilizando uma eventual restauração da peça. Procurei muito uma câmara nova, mas é praticamente impossível de achar, que dirá original... Talvez seja a peça mais problemática das CB 400 /450 essa câmara! Encontrei uma usada, com a chapa de aço bem forte, mas amassada de leve na porção inferior (isso é praxe nessa peça...). Paguei meros R$ 30,00 e instalei na moto. Depois disso passei a usar muito a moto, inclusive pegando muita chuva. Nessa, apareceu uma ferrugem externa na peça e comecei a me preocupar. Agora que estou dando uma maior atenção à moto, é o momento de “salvar” a peça. Retirar todo o sistema de escape é fácil, a câmara é presa no próprio motor e sai por último.

 

 

Com isso, temos essa estranha peça. Para quem não sabe, isso aí, além de equalizar os gases do motor, melhorando o torque em baixa e média rotação serve também para diminuir os efeitos de poluição, já que o choque dos gases em seu interior fazem alguns elementos se anularem, fazendo a moto poluir menos, uma espécie de catalisador jurássico... Vê-se muita ferrugem, principalmente nas extremidades. O centro está bom, com tinta original.

 

 

Um problema que já “veio” na peça que comprei: um parafuso de fixação das plaquetas cromadas de acabamento fora quebrado e seu corpo ficou na peça, inviabilizando fixar corretamente a plaqueta esquerda, que prendi com arame!!! Ao menos na parte frontal. Olha aí o problema!

 

 

Com isso, levei a peça no meu amigo Erikson, dono de uma oficina de trabalhos pesados perto de casa, que parou o que fazia, cortou o pino com o parafuso quebrado dentro e soldou outro, removido de outra câmara equalizadora que eu mesmo levei (a original dessa moto, toda furada).

 

 

Lixei tudo até remover toda ferrugem e tinta antiga, depois lavei com desengraxante, pra tirar qualquer óleo ou graxa.

 

 

Aí apareceu os dizeres que confirmam que essa peça também é original Honda: “Produzida na Zona Franca de Manaus”. Tinha tanta ferrugem que nem dava para ler...

 

 

A peça foi pintada com tinta alta temperatura 600º de base de silicone e é “curada” no forno. O resultado compensa!

 

 

 

 

Depois de 2 dias consegui colocar todo o sistema de escape de volta na moto. Todos os parafusos e presilhas foram mantidos originais, apenas lavados. Já os parafusos que prendem as plaquetas cromadas de acabamento da câmara equalizadora foram trocados por novos de aço inox, com arruelas de pressão. Outra coisa pessoal!

 

 

 

Recomendo fazer esse serviço se você tem ou comprou uma CB 400 recentemente, pois essa peça (a câmara do escape) é sensível à ação da ferrugem. Como puderam ver é um serviço simples de se fazer, precisando basicamente de paciência e uma ou outra ferramenta e tinta. O resultado compensa muito, tanto na estética (o sistema de escape parece novo!), quanto em termos de “dor de cabeça” futura, pois torna-se assim uma manutenção preventiva.

 

Agora procuro o espelho retrovisor Metagal do lado esquerdo, uma buzina original, falta trocar um ou outro parafuso enferrujado por novos de inox e fazer a pintura, embora isso vá demorar um pouco ainda... Aguardem