RD 350 para trilhas
Interessante como algumas passagens das nossas vidas permanecem como recordações. Entre as quais passei, tem mais uma que me recordo:
Inverno de 78, um amigo iniciante no ramo, pediu-me para utilizar sua Motovi 125 cm³, novinha mas abandonada por falta de uso.Após os devidos ajustes mecânicos e algumas voltas pelo bairro foram suficientes para fazer-me lembrar da excelente ciclística de outra Motovi (Harley/Cagiva) 125 cm³ que havia tido no ano anterior, excitando minhas lombrigas para uma estradinha cheia de curvas, acompanhado de um ou dois retardados.
Sempre acreditei que se passar muito desse número, aumenta a possibilidade de algo dar errado e além do que, como ouvi noutro dia, andar em bando é pra pássaros.
Como o italiano - Yamaha RX 125 cm³ - e eu - Motovi (Harley/Cagiva) 125 cm³ emprestada - conhecedores da vantagem ciclística das 125 cm³ em relação às motos maiores - andávamos cansados de ouvir sobre a supremacia de uma RD 350 local, decidimos por em prática nossos argumentos, arrastando o incauto para a então pacata cidade de Campos do Jordão - SP.
Pé na estrada, rodovia Presidente Dutra, por pura sacanagem a RD deixava-nos passar para depois nos atropelar, largando no ar o perfume do óleo 2T.E assim fomos todo o percurso até S.J.Campos, de onde iríamos pelo único acesso, via Monteiro Lobato.
Chegada a hora da verdade e para o desespero do incauto, a cada seqüência de curvas, as 125 despachavam cada vez mais a RD.Em um determinado trecho, colado na roda traseira do italiano, dou uma olhada nos espelhos retrovisores e... cadê a RD?
Por alguns instantes, tento em vão passar o italiano que, sem espelhos para minimizar os efeitos da resistência aerodinâmica, não dava um refresco sequer. Retardo por um pelésimo uma freada até emparelhar para avisá-lo da falta da RD.
Voltamos e encontramos o incauto e a RD com o lado direito completamente enlameado mas sem ralos. A explicação foi a de que numa curva para a esquerda, com o chão um pouco liso, o incauto perdera o traçado e ao sair da estrada dera de cara com uma passagem entre a guia e um bueiro.Então, sem descer da RD, começa a escalar um barranco. Com a acentuada inclinação do morro, para não cair lá do cume, a solução foi dar algumas patadas no barro para voltar para o asfalto.
Hoje, quando sentamos pra uma cerva (o italiano lá do outro lado), rimos muito ao lembrar dessa passagem onde ele com a RD, de tanto tomar pau das 125, resolveu cortar caminho por uma trilha num morro (né, incauto? ou seria bração? ou alpinista?).
Eddy Cristiani
S.B.Campo - SP