O triste fim da "Panela Velha"



Bom, meus caros amigos, vamos então para mais uma etapa da saga da CB450TR...
Como tudo que é maravilhoso e empolgante tem que chegar a um fim, minha história pessoal com as CB's acabou tendo certos meandros inesperados.
Acabei tendo um acidente em 2003, final do ano, com aquela CB450TR da minha outra estória ( Panela Velha ).

Um cara sem noção passou o sinal vermelho e me acertou no meio, nem tenho muito que dizer, pois acredito que vários motociclistas como eu sempre passam ou vão ainda passar algum momento nefasto provocado pela negligência de pessoas que nem mereciam andar à cavalo, que dirá pilotar carros.

Minha CB foi destruída, se despedaçou e por sorte nada sério aconteceu comigo, um joelho ralado, alguns pontos e um capacete quebrado, etc. Mas a motoca, parecia que havia sido mastigada por um grande tubarão branco e cuspida de volta ao mundo. Senti-me pior que o Vidal da antiga música do Paralamas ( quando ele andava à pé ). O cidadão que me atropelou não tinha habilitação em dia, estava caçado anteriormente por outra infração grave, o carro estava irregular e para piorar a situação ele me acertou em frente a um guarda de trânsito, você pode estar pensando meu caro leitor: ah, esse cara não vai dirigir nem carrinho de supermercado! Bom, para vocês deixo uma boa e velha música: "Brasil, meu Brasil brasileiro...". Ou seja, o cara saiu na boa, impune, sem nada de errado, deve ter respondido uma bobagem ou outra, mas escapou.  Adianta queimar a pestana ? Tomara que um dia as pessoas se conscientizem mais nesse trânsito nojento que existe em nosso país e que as leis funcionem de forma igual para todo mundo.
A moto recebeu a extrema unção do meu mecânico e vendi ela no estado. Quase tremi de raiva ao deixar minha melhor motoca para trás, mas engoli minha vaidade e fui embora.
Passaram-se dois anos. Tive outras duas motos depois, uma XR200 e uma Sahara 93, mas nada era como a boa e amável "Panela Velha". Quando a Sahara deu pau em uma viagem, fiquei com nojo de motos por um tempo longo ( duas semanas, rs rs rs ) e vendi ela para uns trilheiros sucatearem o que havia sobrado. Andando a pé, um belo dia, adivinhem o que vejo totalmente reformada e com cor negra fosca ? Minha falecida moto CB450TR, tal qual o próprio Darth Vader de Star Wars, lá estava ela, reformada, alinhada, negra, com um aspecto macabro e sinistramente barata, rs rs rs. Cheguei lá na garagem e fiz minha oferta, o dono ainda era o mesmo que a havia comprado de mim anos atrás. Ele sem retrucar topou, acabei comprando a "Panela Velha" de volta. Meus amigos, não me agüentei, parecia encontro de ex amantes, peguei a moto e três dias depois fui rodando com ela para um encontro de motos no Paraguai ( deu uns 800km ida e volta, por aí ), entrei em um moto clube, refiz a pintura negra dela ( a primeira versão de quando ela estava comigo era branca ) e só andava no pau. Fui chamado para trabalhar no Rio Grande do Sul, pensei que iria encarar uma viagem com ela de boa ( quase uns 2 mil kms ), mas não sei, pela condição das estradas do Paraná e de Santa Catarina, preferi despachar a moto. Foi aí que eu a "matei".
A transportadora que tinha seguro, inspeção e que havia me cobrado uma fábula para enviar ela do MS para o RS mandou a moto em um caminhão cegonha, acomodada no meio dos carros. Imaginem o estado como ela chegou, abalada, o motor nem funcionava direito ( ela que já era velha, já havia tomado suas porradas, etc, não deve ter agüentado tanta vibração do caminhão ), o motor de arranque também não, mangueiras de óleo do radiador estouradas, espelhos quebrados, banco rasgados, um pesadelo...
Mesmo assim, ainda tentei arrumar, mas vi que meu prejuízo com ela estava se tornando astronômico e me desculpem a franqueza, aqui no RS não há mecânicos que gostem de CB's como em São Paulo, aqui eles correm. Não consegui deixar ela como eu queria. Vendi a "Panela Velha" mais uma vez, dessa vez para nunca mais voltar, pois vendi por pedaços ( quadro, rodas, motor, etc ), dei baixa no DETRAN e sucatei a motoca. Fiquei a pé um tempo, comprei um carro, mas meu sangue pedia moto. Achei uma outra CB, agora uma 400, vermelha, CB II 1982. Fiquei feliz e tal, mas alegria de CBzeiro dura pouco ( no caso a minha ), a moto apresentou vários problemas, motor batendo, comando de válvulas, rodas desalinhadas, carburador ferrado, etc. Mandei embora, não era a "Panela Velha", não era o meu amor antigo. Atualmente tenho uma TDM225 da Yamaha, admito que não é clássica e nem bonita, por enquanto tem me servido. Mas ainda olho as fotos das viagens que eu fiz com a minha CB450TR vulgo Panela Velha e sinto mais falta dela do que qualquer namorada. Deserto de Atacama no Chile ? Ainda vou para lá, só não sei se vai ser de TDM225 ou se o fantasma da Panela Velha vai voltar para me assombrar...

 

Ricardo Bianconi

Canoas - RS
rbianconi@hotmail.com