Uma cerveja com Fredie Kruguer
No final dos anos 80, início dos 90, eu morava em um bairro residencial chamado Santa Quitéria onde lá eu e o Gerson restauramos uma das RD`s que tive, a terceira da série de três, a mais inteira, original com tudo no lugar.
Uns anos antes, eu e o Gerson, fuçávamos na periferia da cidade, oficinas, lugares e malucos como nós que gostavam de velharias, motos antigas, carros, etc.
Vejam que nada mudou nestes anos todos da nossa amizade. Foi aí que não me lembro como, fomos parar em uma casa de um doidão que tinha um guincho daqueles tipo " corvo de BR ".
O cara morava em uma típica "residência" de um bicho grilo dos anos 70 que não admitiu que o movimento Punk dos anos 80 tivessem mudado os hábitos hippies de uma geração.
Apesar de ser 1989, creio eu, mas a cena era outra: Uma casa de madeira já envelhecida com o tempo remanescente da colonização polônesa de Curitiba, ficava em uma rua de paralelepípedos de granito, cerca de imbúia, madeira já praticamente extinta, o gramado por fazer, sem calçamento e um monte de cachorros pulguentos por volta. Lá funcionava uma oficina mecânica que mais parecia uma borracharia.
Ao chegar no local logo vimos muitas motos de seu acervo, lembro de uma Norton, uma Royal Enfield modificada p/ chopper, um caminhão Buick sem carroceria e ao lado da varanda lá estáva ela: Uma linda RD 250 azul anil ano 73 inteira c/ a pintura original e marcava perto de 90 mil KM !!! Deveria ser original. Papo vai papo vem, pedi p/ o maluco funcioná-la mas o cara logo desconversou dizendo não estar a venda. Passa um tempo e fui na casa de um outro RDzeiro, o Chico, trocar uma idéia e o que eu ví na sua garagem: Ela, A RD mais inteira na mão do seu irmão, o maior picareta da roda e logo pensei; ele não vai esquentar uma semana com ela... Acreditem, tem pessoas assim, vivem "mudando de assunto", mesmo que não obtenham lucro!!! Foi aí que armei a maior maracutaia. O Gerson estáva " sofrendo " com a sua 360 *( ler história 189 ) que não ía bem e a sua mãe estava pegando no seu pé por ser mecânico de autos em uma conscecionária e não tinha um carro p/ levá- ao mercado e por um tombo na esquina de sua casa o que custou uma correria daquelas ( ele é alérgico a penicilína e ninguém sabia )!!!
Foi aí que anunciei a minha atual RD tambem 250 azul 74 no jornal e fiquei de olho quem trocava carro por moto. Neste meio tempo fizemos andar a CB 360 e em um prazo de uma semana , foi vendida p/ o "João das motos", comeciante até hoje, por um bom preço.
Aí então coloquei o Gerson na jogada. Foi fácil convencer o instável irmão do Chico a vende-lá.
Pronto, A dita cuja estava entre nós. Passou mais um tempo e muitos anuncios na Gazeta do Povo, pois a mãe do Gerson o insistia em comprar um auto.
Então pintou um cara interessado na minha RD em troca de uma " Brasilia "; e foi de noite, ele não viu os defeitos da RD, eu não vi os da Brasilia e a mãe do Gerson tão pouco viu. Imaginem só; trocar uma RD por uma Brasilia branca 74 !!!
Não entendemos até hoje, mas assim foi... O gerson pegou a chave da Brasilia e a sua mãe ficou " feliz" e eu as da RD 250 azul anil 1973 !!!
No primeiro sábado fui até o lava-car de nome Zeppelin, perto da minha casa para dar um trato na máquina.
O lavador era um cara que tinha o apelido de Fredie Kruguer porque tinha o rosto todo enrrugado e desfigurado, cheio de verrugas, mas o cara éera quietão e muito proficional, sempre que levei as minhas motos lá ele sempre caprichou e atendeu aos meus pedidos de cuidado com certas partes de nossas motos e não usava aditivos no sabão.
A moto saíu limpinha e reluzente enquanto eu saboreava uma geláada!!!
Passaram-se os anos e por motivos que não sei explicar, a vendi e me arrependi, talvez foi a falta da internet, ou perdi a empolgação de mante-la, uma RD, a mais inteira que tive porque um tombo em um dia de garoa, quebrei o óculos do painel e hoje se compra relativamente fácil no e-bay, enfim ela se foi numa tarde de domingo de 92.
O anúncio foi feito e dois malucos a levaram e repetiram a história... Por um certo tempo a minha oficina "pilôto" ficou encaixotada e tão logo me livrei do aluguel, a montei dentro da obra da nova casa, mais precisamente na cozinha... que estáva por terminar e irônicamente sem moto.
Aí veio a 400F... a GT 250... a Monark... a BSA e quando eu ví a minha esposa dizer: vai ter que aumentar!!!
Mas enfim estou feliz de volta com as velhas máquinas.
Esses dias atrás fui até o bairro que morei e vi que o lava-car existia ainda e resolvi lavar o carro.
Foi aí então que tive a maior surpresa: Lá estáva ele, Fredie Kruguer no comando e "atuando" no box de lavagem, não acreditei ao ver a mesma cena dele manobrando e rodopiando a mangueira da pistola sem bater nos carros, fui então tomar aquela cerveja gelada ali e ver o cara mais feio da face da terra deixar o meu carro brilhando...
E aí que me passou todo esse filme que relatei hoje.
Já era fim de expediente no lava-car e o meu carro era o último, terminado o serviço, chamei-o... - Vem cá cara, toma uma comigo... Você trabalhou muito hoje... (diz o ditado: beleza não se põem na mesa).
Um abraço a todos os profissionais que fizeram e fazem parte de nossas histórias !
Alexandre Pacheco dos Santos
Curitiba - Paraná
aletunari@pop.com.br