Luiz Celso Giannini

"Um dos pioneiros"

 

Um dos primeiros pilotos brasileiros que disputaram um Grande Prêmio válido pelo Campeonato Mundial de Motociclismo. Paulistano nascido em 18 de julho de 1947.


Giannini começou a andar de moto aos 13 anos de idade, com uma Monareta comprada em sociedade com o irmão.

Depois, trocou-a por uma Mondial 50 cm³ e em seguida passou para uma Silpo 150 cm³.

Fez várias corridas em Interlagos e também em diversos circuitos de rua em cidades do estado de São Paulo.

“Lembro de uma em Santos em que uma das referências de traçado era uma mancha de óleo em um ponto de táxi” - comenta Giannini !


Uma das primeiras corridas de Giannini em Interlagos, na década de 1960. Repare no estado do asfalto.

 


Mais uma prova nos anos 60...

 


Na década de 1960, recebendo o troféu por uma vitória em Interlagos.

Em 1970, Giannini e Adu Celso partiram para um desafio que nenhum brasileiro – ao menos que se tenha notícia – havia encarado até então: disputar um Grande Prêmio válido pelo Campeonato Mundial de Motociclismo. Não seria uma tarefa fácil. Desde 1954, a CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo) estava suspensa pela FIM (Federação Internacional de Motociclismo) devido às falhas de organização do “GP do IV Centenário de São Paulo”, em Interlagos. Contando com a boa vontade de um dirigente espanhol da FIM, Nicolas del Valle, os dois brasileiros puderam se filiar à federação da Holanda e se inscrever nas corridas européias.

"Só decidimos correr na Europa porque o motociclismo estava capengando no Brasil. Durante anos, organizou-se apenas uma ou outra corrida a cada temporada”, explica Giannini. 

“Chegamos lá e não tínhamos a mínima idéia do que iríamos encontrar.” 

Hoje, tais palavras parecem exagero. Mas lembre-se que em 1970 a divulgação do Mundial de Motovelocidade era bem menor que a de hoje e restrita à Europa, apesar de países de outros continentes terem recebido GPs em anos anteriores. No Brasil, não havia sequer revistas especializadas em motociclismo.

Na Holanda, Adu e Giannini conseguiram contato com a Yamaha e compraram suas motos. 

Uma ajuda preciosa partiu de Jan W. F. van Veen, um holandês radicado no Brasil que atuava como diretor técnico da CBM. Ele escreveu as cartas para as autoridades esportivas e pediu à sua filha, que morava na Holanda, que ajudasse os dois pilotos brasileiros no que fosse possível.

"Tínhamos três Yamaha TD”, recorda Giannini. “O Adu corria em duas categorias, 250 cm³ e 350 cm³. Eu só corria na 250. Era uma das melhores motos da categoria na época e desenvolvia 60 cv de potência. Colocávamos as três motos em uma Kombi e íamos para os circuitos.” 

Uma das primeiras corridas dos dois brasileiros aconteceu em Zandvoort, na Holanda, exatamente o circuito onde eles costumavam treinar. 

Adu venceu na 250 e Giannini terminou em quinto lugar. “Minha moto tinha um probleminha qualquer no virabrequim e a carburação saía do ponto. Não tínhamos mecânicos: nós fechávamos nosso box e íamos para a largada.” 

Para ganhar experiência, eles participaram de várias corridas de campeonatos nacionais antes de encarar o Mundial.

Giannini fez três GPs. O primeiro foi o da Finlândia, em Imatra, um perigoso circuito formado por ruas e estradas. Depois veio o GP do Ulster (Irlanda do Norte), também uma pista de estrada, cujo traçado incluía uma passagem sobre trilhos de trem. E depois viria o GP da Tchecoslováquia, em Brno, na época um circuito de estrada com 23 km de extensão.

"Dei duas voltas no treino e fiquei com o último lugar no grid. Nem tive como memorizar a pista”, recorda Giannini. 

As condições do piso tornavam as coisas ainda mais dramáticas, especialmente para um piloto estreante: “Havia muito óleo diesel derramado no asfalto e ainda por cima havia uma infinidade de faixas brancas pintadas no chão”. 

Adu terminou em 15° lugar e Giannini foi o 18° na corrida da 250.

A carreira internacional de Giannini terminou naquele mesmo ano. 

Em setembro, haveria uma prova internacional no circuito de rua de Hengeloo, na Holanda. Somente Adu estava inscrito, mas Giannini acompanhou o colega. 

“O Adu começou a corrida em terceiro lugar. Na quarta volta, não passou mais. Me avisaram que ele havia levado um tombo e fui para o hospital. Ele caiu sentado e comprimiu três vértebras”. 

Enquanto Adu se restabelecia, Giannini preparou a volta dos dois ao Brasil, embalando motos e bagagens. A intenção era aproveitar a experiência e retornar à Europa em 1972. 

“O Adu fez isso logo no começo do ano. Eu ia voltar alguns meses depois, mas acabei ficando por aqui".


Giannini, já no Brasil, disputando uma prova com a Yamaha TD 250, em Interlagos.

 


Giannini e a Yamaha TD 250 em uma prova de rua no Brasil.

"Comecei a correr de automóvel, com um Opala que pertencia ao Carlos Alberto Sgarbi. Terminei em quarto lugar no Torneio Independência, criado para pilotos estreantes e novatos”.

Em 1975, Giannini começou a correr na Fórmula Super Vê, na época a categoria mais competitiva do automobilismo brasileiro.


Giannini pilotando um Polar na Fórmula Super Vê em 1975

Percebeu rapidamente que não teria possibilidades contra equipes bem mais ricas e fez em julho daquele ano sua última corrida. 

Nunca mais voltou às pistas. 

Por muitos anos Giannini cuidou de uma distribuidora de autopeças, a Auto Americano, fundada por sua família há mais de 50 anos e localizada no centro de São Paulo.


Giannini na sede da Auto Americano em 2004

Infelizmente, em 20 de março de 2008, aos 60 anos, Giannini foi vítima de um infarto cardíaco fatal.

Não há registro de que algum brasileiro tenha disputado algum GP do campeonato mundial de motos antes de Adu e Giannini.

Sabe-se que um grupo de pilotos brasileiros disputou na década de 50 uma prova internacional, as 100 Milhas Argentinas, em Buenos Aires, e que um paulista, Caio Marcondes Ferreira, foi o vencedor. 

Esta história foi devidamente preservada pelo dirigente-mor do motociclismo nacional, Eloy Gogliano, também já falecido em 1998 e que tinha Caio Marcondes como um ídolo...

Ao grande pioneiro, nossa homenagem !

Luiz Celso Giannini

"Um dos pioneiros"


Por Luiz Alberto Pandini
Fotos: Arquivo pessoal
Visite: www.pandinigp.blogspot.com


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Comentários:


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Comentário dos Internautas:


Sensacional. Um rosto para o nome que eu conhecia. Parabéns pela matéria.

nome: Tabajara Aparecido Jorge
(tabajara-tabinha@hotmail.com) Terça Feira, 1 de Abril de 2008, às 09:41:18


Em outro país, ele e outros nomes do desvalorizado motociclismo brasileiro não estariam no anonimato, ainda bem que existe esse site. Parabéns e obrigado galera do Motos Clássicas 70.

nome: Othon Voador Russo
(othonrusso@yahoo.com.br) Quarta Feira, 30 de Abril de 2008, às 03:32:20


sensacional que Deus o guarde!
nome = ivansilva
email = ivan.51@hotmail.com


Pandini, seu texto é sensacional, lindo mesmo! Como filho dele, fico extremamente grato a esta singela homenagem, que ao menos uma vez por semana eu paro para ler. Aliás, estou à sua disposição se você quiser ter acesso a outras fotos e aos troféus que ele conquistou, ok? Um grande abraço!
nome = José Pedro Rebello Giannini
email = jprgiannini@gmail.com


Mais uma parte da nossa história motociclista foi escrita. Parabéns.
nome = Allan Jurk
email = allan.jurk@bol.com.br                                                            04/11/2011


No inicio dos anos 70 eu trabalhava na revista Quetro Rodas e depois passei para a Realidade, mas continuava como colaborador da Quetro Rodas. Comecei a frequentar Interlagos e acompanhar as corridas de moto pelo estado de Sao Paulo, pelo numero 11 acho que tenho fotos do Gianinni. Alias, ficamos amigos por pouco tempo, se não estou enganado ele morava no bairro Pacaembu, fui varias vezes almoçar com ele na Auto Americano, tentava aproxima=lo mais dos jornalistas amigos e era uma pessoa excepcionalmente gente fina! Lamentavelmente eu fui para a Europa e por lá fiquei alguns anos, perdendo contato com ele, mas continuei sempre no Jornalismo e andando com as motos. Foi uma pessoa sensacional e um grande piloto de moto!
nome = Edson Lobo
email = elobo1@gmail.com                                        07/08/2015


BELÍSSIMA MATÉRIA. PARABÉNS.
nome = LUIZ BEZZI PASQUARELLI
email = luizbezzi@uol.com.br                                20/03/2019