por:
Gerson Luiz Wagnitz
gersonvendas2@hotmail.com
Durante toda a minha adolescência e até agora sou apaixonado por motocicletas, em especial pelas RD-50.
Alguns amigos meus "desfilavam" com elas na década de 70 ... o sonho de ter uma se manteve vivo
Em novembro de 2006 decidi comprar uma, especificamente o modelo 77 na cor cereja, segundo foi possível levantar este é o primeiro modelo fabricado totalmente no Brasil, pois os modelos anteriores recebiam peças de produção japonesa.
Saí para garimpar uma, e após varias tentativas não consegui encontrar nenhuma que se identificasse com a do meu sonho.
No início de Dezembro / 06 localizei uma em um ferro-velho, baixada no Detran e sem possibilidades de documentar.
Após algumas consultas a amigos resolvi comprá-la ... horrivel pois tinha ficado no pátio do Detran provavelmente muito tempo e em um local onde aves eliminavam as suas fezes sobre ela.
Após uma grande lavagem em um posto de gasolina foi possivel avaliar o tamanho da encrenca !
A "moça" estava bem judiada com praticamente tudo a fazer, com exceção do motor que não estava travado.
Durante dois finais de semana e com a ajuda da minha filhinha Helena de 08 anos, conseguimos desmontá-la totalmente, etiquetar todas as peças e embalá-las separadamente.
Aí, optei por iniciar pela pintura do tanque, laterais, suportes de farol e farol, pois temia pela ferrugem no tanque e por ter de comprar outro, o pessoal das motos antigas (Vitor e Marco Aurelio) me auxiliaram muito nesta etapa pois conseguiram realizar um belo trabalho como é possivel ver abaixo.
Um belo trabalho realizado ...
Comecei a fazer algumas peças do motor pois estavam grossas de sujeira..
Com ajuda deste site consegui a borracha de união entre o carburador e filtro de ar que deve chegar na próxima semana, e consegui esta semana o aro do farol original
Amanhã vou buscar o banco ...
Consegui 02 réplicas perfeitas e comprei ambos, pois sempre tem alguém que precisa de um.
Achei o preço bom (R$75,00 cada), mas se trata de bancos completos, assim que os pegar envio fotos.
23/02/2007
A "moça" tá ficando bonita.
Conforme já relatei fui buscar o banco, e consegui montar o farol, assim ela já esta de olhos novos e banco novinho.
Não vejo a hora de começar a montar tudo, pois ainda falta enraiar as rodas (os cubos foram para polimento e ficam prontos na segunda-feira), jatear e pintar o quadro e cromar as peças.
Ainda bem que me serve de consolo que não sou o unico a restaurar uma moto morando em um apartamento, o Marcos Pasini também mora e deve saber de que estou falando.
Olha só o novo olho da "moça".
01/03/2007
Hoje ficaram prontos os cubos de rodas, uma maravilha em relação ao que estavam.
Também chegou a borracha de conexão do carburador com o filtro, que consegui com o amigo Leonardo do Rio Grande do Sul.
Esta peça é rara, original, e nova.
13/03/2007
Já não podemos dizer que a "moça" não tem placa segue abaixo o presente que o amigo Clemente da Mega Placas me deu, documentos ela não tem, mais placa tem.
Ficou finalmente pronto o velocimetro totalmente recuperado pelo Zezé, um artista.
Olha o estado que estava ...
... e como ficou:
Semana que vem deve ficar pronto o quadro.
22/03/2007
Esta semana tivemos boas evoluções o quadro ficou pronto assim esquecendo toda aquela ferrugem que tanto me preocupava, a pintura foi feita em epóxi, aproveitei e já mandei pintar todas as peças que eram na cor preta, assim eliminando futuros problemas.
Olha a situação que estava:
Após o jateamento o coração já bateu mais tranquilo...
E agora a paixão pela "moça" começa a brilhar pois já está bem mais linda, e o coração bate "solto"...
Também ficaram prontas as pernas da moça um ótimo trabalho realizado por um profissional só em suspensões o Sérgio.
É impressionante a quantidade de pessoas que gostam das RD's 50 !
Todo dia chegam e-mails perguntando como está e onde estou conseguindo as peças.
Isto é bom pois além de manter viva a história da Indústria Motociclística Brasileira tenho ajudado a todos que posso, assim realizando também talvez seus sonhos.
A caçada as peças tem sido bem gostosa pois alguns ferro-velhos tem algumas peças que nem eles sabem do que é, sendo assim todo sábado tenho visitas a fazer.
Semana que vem passo as novidades.
03/05/2007
Os ultimos dias tem sido bastante corridos e com muito trabalho e isto atrasou bastante o processo de restauração, mas mesmo assim consegui após uma "novela Mexicana" restaurar totalmente o paralama dianteiro, pois os que consegui para comprar estavam ao meu ver com preço alto e após correr várias cromagens locais me deram a dica de um senhor que restaurava a lata do paralama pois o mesmo estava com um amassado na parte frontal e algum "engenheiro" dessamasou a marretadas o que provocou uma dilatação, isto sem contar na ferrugem que corroeu as soldas do suporte com o paralama afetando este.
Fiquei surpreso pelo trabalho realizado e o tempo que levou deixei em um dia e no outro ele me ligou dizendo que estava pronto o que não é nada comum, ficou ótimo porém toda a camada de cromo foi removida o que exigia imediata cromagem, levei para a cromagem e ai está o resultado.
Tendo em vista o estado que se encontrava ficou ótimo.
Também consegui a chave de ignição com a marca Yamaha e cópia de chave o que me preocupava pois a "moça" não tinha chave, assim se acabou uma preocupação que já perdurava algum tempo.
Consegui as borrachas de proteção da suspensão dianteira e das manoplas.
Agora peço ajuda aos amigos... consegui o suporte e o manete do lado direito (freio) e necessito a do lado esquerdo (embreagem) quem tiver entre em contato.
Já descobri que até o dia 27 de Maio não estarei com a "moça" pronta pois teremos o Encontro Nacional de Motos Antigas aqui de Curitiba, mas tudo bem de nada adianta acelerar o processo e fugir do "sonho de trinta anos".
Quando surgirem as novidades volto a apresenta-las.
07/07/2007
Demorei um pouco para passar as novidades, é o excesso de trabalho que acaba tomando todo o tempo util do dia e noite até.
Efetuei a montagem após a chegada das ultimas peças as rodas foram montadas já com os pneus na medida original, agora falta basicamente fechar o motor e fazer a elétrica.
Consegui um bom resultado nas rodas.
O visual dianteiro e traseiro ficou ótimo.
Já da para imaginar como ficará o resultado final.
Em breve passo novidades.
10/08/2007
Com a chegada do final da restauração o coração começa a bater mais rápido, o "Bira" figura muito conhecida aqui de Curitiba fez um trabalho de mestre no motor, todas as peças com o minimo desgaste foram substituidas, pistão, anéis, pinos, biela, gaiolas, retentores e todos os rolamentos conseguimos todas as peças originais inclusive o reparo completo do carburador.
Estou aguardando apenas o amigo "Alex" um expert em chicotes de motos terminar seu trabalho o que pode ocorrer ainda este final de semana, e por coincidencia bem no dia dos pais, é mais uma moça que vamos ter aqui em casa.
Olha só o "Power train" já colocado na moça, quase tudo pronto, consegui depois de muito tempo o espelho retrovisor do lado esquerdo com a famosa rosca 8mm direita.
Confesso estar ansioso, tal qual minha filha, mas o trabalho está ficando de ótima qualidade.
Passo novidades logo.
24/08/2007
Finalmente montamos a parte elétrica da "moça" tudo está funcionando até mesmo a luz de espia do velocimetro, começamos no sábado as 15:00 hrs e somente paramos as 02:30 da manhã, um exepcional trabalho realizado pelo Alex, o cara é bom mesmo, refez totalmente o chicote e instalou de maneira espetacular, o problema dele é o excesso de detalhes, até chicote para a buzina ele faz e com direito a spaguetti e tudo, devo no proximo fim de semana funciona-la e desde já estou me preparando para isto (emocionalmente é claro).
Veja só como ficou o chicote principal.
Este ai é o figura, um especialista em elétrica motociclistica.
Aquela manhã de feriado amanheceu, como sempre, em Curitiba, com o tempo nublado, vi o dia amanhecer pois hoje era o dia de a 'moça' funcionar, fiz o café rápido, apanhei as ferramentas e mesmo antes das 07:30 já estava na garagem.
Tirei a proteção de pano (para não ir pó) de cima da 'moça' e lá estava ela, exatamente como tinha sonhado há trinta anos, fiquei no banquinho apenas olhando, todo o trabalho de quase um ano estava concluído, vermelho cereja já com as faixas do modelo 'novo' me recordei por algum tempo da época de adolescente Bee Gees, Dona Summer, Elton John, Roberta Flack e as baladas, muito diferentes das que meu filho vai hoje.
Nós eramos mais puros e o militarismo já dava indícios de seu fim.
A galera já falava em poder votar para Presidente, sim pois estes eram 'eleitos' pelo Congresso, não se via motos novas de alta cilindrada a importação estava proibida e quando pintava alguma na rua todo mundo parava para ver, com meus 15 anos era difícil imaginar como seria o futuro ante a situação daquele momento no país.
Foi como por algum tempo voltasse a ter 15 anos, calça? US TOP, Tenis? Adidas Italia (só usava de vez em quando), os discos todos de vinil e aquele som que saía do Gradiente como era bom, os equalizadores?
Quem tinha um Quasar era rei.... Que dizer então de uma RD-50... Mas ali ela estava me trazendo todas as boas recordações da adoslescência.
Coloquei a gasolina no tanque, verifiquei o nível de óleo do motor e autolub, tudo certo !!!!
Abri a torneira de combustível, a gasolina desceu para o carburador passando pelo filtro (uma mudança necessária como o outro falou) foi como se de repente a 'moça' enchesse os pulmões de ar, o vazamento do carburador já não existia mais, subi na 'moça' seu banco estreito se encaixou, as pernas não como adolescente mas como adulto maduro, girei a chave de ignição e a luz enorme verde do ponto morto se acendeu no painel, um pequena puxada no afogador - girei o Kick de partida o rolamento deslizou pela pista e se encaixou travando o pedal em posição de trabalho, um leve esforço e o motor rodou, quase foi possível ouvir os gases do combustível passando pelas palhetas, o motor se enchendo de mistura e o pistão indo para cima rápido, buscando a compressão total, dois giros apenas e o motor não pegou, não era de se admirar há tanto tempo parado...
Repeti todo o processo por mais duas vezes e ai... amigos ela funcionou !!!!!!
Aquele ronquinho que só quem viveu na época ouviu, suave e profundo, viajei de volta a adolescência, rapidamente me concentrei novamente no que estava fazendo, embreagem e engatei a primeira, sem trancos pois a embreagem e campana são novos, abri a portão pelo controle e a sensação que tive foi que ela me disse: 'vamos' ... a saida da garagem foi sem problemas a rampa foi superada sem o motor sequer 'apanhar', uma parada, fecha o portão, e vamos lá...
O sol já brilhava entre poucas nuvens, desci a Abílio Peixoto, sem pressa, foi até a quarta marcha macio, suave, reduzi entrei na Eça de Queiroz rua tranquilíssima a essa hora da manhã e feriado, rodei por toda esta rua e por momentos a sensação que tive foi de a 'moça' estar conversando comigo e me agradecendo de tê-la livrado daquele triste fim em um ferro velho, numa perfeita simbiose entre homem e máquina, andamos assim naquela manhã por uns 45 minutos, suave deixando o ar gelado da manhã refrigerar o motor.
Esta foi uma das melhores experiências e sensações que tive na vida...
Olha só como ficou bonita, perfeita (aos meus olhos).
Sei que se trata de uma 'cincoentinha' (acho este termo pejorativo) mas para mim o significado desta moto é diferente é como se fosse uma Four para muitos, olha só eu, orgulhoso do trabalho realizado.
É claro que levei minha filhinha andar na moça afinal de contas tudo o que nós pais fazemos indiretamente é para os filhos, ela também se sentiu orgulhosa pois acompanhou e me auxiliou em tudo dentro das suas possibilidades...
e também tá orgulhosa veja só:
No domingo fui com ela ao encontro, o grande amigo Alex me apanhou em casa para acompanhar, (escolta) se ocorresse algum problema com sua BSA, chegando no encontro foi o seu dia de glória (e meu também) pois a expectativa de todos os amigos era enorme, posso afirmar até que a moça ficou até um pouco exibida.
Cabe agradecer a ajuda de quem tornou possível ser realizado este sonho... dentre muitos agradeço, ao Alex com sua experiência em elétrica motociclística e companherismo costante, ao Gerson, xará e amigo, sempre motivando para não desistir, ao Carrilho sempre pensando muito antes de falar algo, ao "Bira" que entre umas cervas e outras sempre estava presente e conseguiu fazer o coração da moça bater, aos Ricardo Pupo e Marcos Pasini, que com sua ajuda e do site conseguiram encontrar soluções, aos Barba e Marcio da Motorcycle, ao Miguel Angelo Quaggio com sua ajuda na hora certa, ao Flavio A. P. de São Paulo com sua ajuda em momentos decisivos, ao Leonardo do Rio Grande do Sul, ao pessoal do Borguezani ajudando a buscar peças, ao Wirso (é assim o nome mesmo) ajudando a catar peças no ferro-velho, à Dona Margarida (esposa do falecido Giovanni da Italmotonetas), e muitos outros que de uma maneira ou outra contribuiram para a realização do sonho.